domingo, 21 de novembro de 2010

Imprevistos: alertas da vida

Quando menos esperamos, os imprevistos ocorrem. São aqueles acontecimentos nas nossas vidas que mudam tudo. O rumo delas acaba não sendo o mesmo após estes fatos. E do que eu estou falando ? Que imprevistos são estes ? Podem ser acontecimentos negativos ou positivos, mas normalmente são fatos do mundo externo que nos cerca. Muito difícil eles virem do mundo interno, pois é mais raro acordamos e dizermos que aconteceu um grande fato durante uma noite de sono e,  a partir desse, nossas vidas seriam alteradas.

Estou me referindo àqueles gatilhos que nos acontecem na vida, tais como, uma proposta de um emprego ou de um cargo novo, uma demissão, uma doença grave conosco ou alguém próximo, uma separação conjugal, a descoberta de uma traição de um amigo, uma grande paixão ou mesmo a morte de um ente querido. Qualquer fato destes vai trazer, com certeza, uma mudança de curso nas nossas vidas. Impossível passarmos à margem deles.

Agora, será que todos eles são mesmo imprevistos ? Não quero dizer que eles já estivessem escritos e poderíamos senti-los se aproximarem. Acidentes ou premiações acontecem, mas, em quantas vezes, se fizermos uma reflexão profunda, já não tivemos alguma sensação de que algo assim estivesse por vir. Nem sempre uma doença, uma separação, uma demissão ou mesmo uma paixão vem sozinha, sem ser precedida de sinais. Simplesmente, às vezes, não queremos enxergá-los.

Infelizmente, a maioria de nós adora uma zona de conforto. Algumas, de fato, são boas, mas tendem a nos deixar lentos, não criativos e preguiçosos. E, nesta inércia, acabamos não querendo ver ou ouvir os sinais que a vida nos passa. Parece que eles vão ficando armazenados em algum compartimento que fica entre o inconsciente e o consciente. Se trouxermos eles para o consciente, pronto, teremos que sair da zona de conforto e tomar alguma atitude. É mais fácil fazer de conta que eles não existem, virar de lado e ir seguindo a vida. Até que um dia, a vida nos prega uma peça e o fato rompe no mundo externo e vem a nossa consciência.

E agora ? O que fazer ? Se for um acontecimento bacana, que tende a transformar nossas vidas para um patamar de maior felicidade,  dá para relaxar e só curtir ? Provavelmente, não. Mesmo sendo algo positivo, como um novo emprego ou uma grande paixão, temos que estar atentos para saber aproveitar a boa chance. Gosto de dizer que são dádivas que recebemos, mas cabe a nós saber como vamos lidar com elas. São diamantes, mas em sua forma crua. Se não colocarmos energia de nossas vidas para lapidá-los, eles nunca se transformarão em jóias. Transformar uma paixão em amor, exige esforço. Transformar um emprego novo em um sucesso profissional, exige esforço. Não dá para deixar na mão da vida e acreditar que estas coisas sozinhas vão acontecer.

E quando os acontecimentos são ruins, tristes ou que abalem profundamente nossas emoções ? Difícil convencer alguém que seriam dádivas. No entanto, também acho que devemos encarar como oportunidades que a vida está nos colocando para refletirmos sobre como a conduzimos até então e se é assim que queremos conduzi-la dali para frente. Por mais que tenha muita dor associada ao acontecimento, ainda assim acho que é um grande alerta que a vida está passando para mudarmos. Pode ser a conduta com a nossa saúde, a relação com a carreira profissional, como vínhamos lidando com a relação a dois ou a importância que dávamos para as pessoas que nos cercam. Um fato forte no mundo externo pode ser uma grande oportunidade para revermos nossa conduta de vida.

Podemos ficar sentados e esperar que as coisas aconteçam ou tornarmo-nos observadores da nossa própria vida e senhores dos nossos destinos. Que a vida vai nos tirar da zona de conforto a toda hora, disso eu não tenho dúvida. É nossa atitude antes ou mesmo depois que os fatos acontecem que nos torna diferentes e com mais ou menos chances de sermos felizes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em certas horas, só nos resta torcer.

A satisfação ao ouvir meu filho Gabriel, espreguiçado no banco de trás do carro, dizer “como é boa a sensação de ser campeão” foi enorme. Estávamos voltando do ginásio após a última partida do campeonato infanto-juvenil de basketball da Grande São Paulo, na qual o Clube Athlético Paulistano havia derrotado o Esporte Clube Pinheiros. Foi uma partida eletrizante e o sabor da vitória estava na boca de todos ali no carro que sobreviveram a ela. Esta mesma cena, nos últimos anos, tinha sido exatamente o oposto. Por três vezes tive que consolar meu filho dizendo que chegar em segundo também era importante. Não preciso dizer que a taxa de sucesso foi perto de zero nestas minhas tentativas.

Acompanho a carreira do meu filho no basketball há 6 anos. Os ensinamentos que a prática esportiva trouxeram a ele neste período, sem dúvida, são e serão de muita valia em sua vida. O esporte trouxe a responsabilidade e a disciplina para participar de treinos diários e também aos fins de semana. O espírito de equipe e a camaradagem são a base do sucesso do seu time. Teve momentos muito díficeis também, como perder o primeiro emprego com 12 anos. O Sírio, clube para o qual ele jogava, acabou com a modalidade logo ao final do primeiro ano do meu filho no basketball federado. Veio a transferência para o Paulistano e o aprendizado sofrido com os três anos consecutivos com derrota na última partida, após trabalho de todo um ano. O sabor de ser vice tantas vezes foi muito amargo.

Assim, o esporte vem ensinando ao meu filho os revezes que a vida nos prega todos os dias. Sem treinamento, disciplina, foco e determinação, nunca chegaremos lá e, muitas vezes, isso não é condição suficiente para tal. O adversário pode ter feito tudo isso e nos superar ou mesmo podemos perder pela autoconfiança exagerada. O esporte serve como uma escola única para colocar em prática as questões importantes da vida.

E o meu papel de pai ? Até onde ele foi nesta história ? Por vários momentos tive vontade de entrar na quadra e empurrar meu filho para a cesta. Em outros quis gritar com ele, passar garra. Em muitos, apenas vibrar. Mas, ao final, tive que me contentar em ser apenas um espectador. Gritei refrões de “Vamos, Biel”, “É isso aí, meu filho”, “Defesa”, e dei aquela força na hora de levá-lo aos treinos ou debater o jogo após uma vitória ou mesmo derrota.

Certa vez, tive o privilégio de conversar com o Bernardinho, treinador dourado da nossa seleção masculina de voleibol. Perguntei a ele qual deveria ser a conduta de um pai frente a um filho atleta. Não esqueço uma frase que ele disse: “Seja um porto seguro e deixe o treinador fazer o papel dele”. O Bernardinho emendou dizendo que isto não quer dizer que não deveria apontar alguns caminhos, mas que meu filho, para a missão do basketball, não poderia ter dois técnicos. Tem sido muito difícil me segurar na arquibancada e não querer estar no banco de reservas dando instruções.

Hoje, por meio desta jornada do Gabriel no esporte, tenho muito claro qual é o papel que acho que nós pais devemos ter em relação ao filhos. Devemos suportá-los, orientá-los, torcer por eles, estar presentes, mas, não dá para entrar na quadra por eles e querer jogar no lugar deles. Temos que nos contentar em ficar na arquibancada e torcer. Acreditar que tudo aquilo que ensinamos, junto com os ensinamentos dos treinadores e companheiros que passaram na vida deles, possam trazer o efeito positivo que queremos.

Nossos filhos, a cada nova situação, terão que pesquisar as suas bases de ensinamentos para tomar suas próprias decisões. A medida que chegam à fase adulta, passarão a jogar por suas próprias pernas e nós pais não poderemos e nem deveremos entrar na quadra para jogarmos no lugar deles. Gritaremos de fora, mas não poderemos viver a vida deles. Podemos ser treinadores ou torcedores, mas não somos jogadores substitutos. Temos que ser jogadores atuantes, mas das nossas próprias vidas. Não estamos aqui para viver a vida de ninguém, senão a nossa.

Na quadra de basketball, assim como na quadra da vida, nossos filhos caem, se machucam, vencem, choram, gritam. Devemos estar sempre lá para acompanhar as suas emoções, boas ou ruins. Segurarmo-nos para não entrar na quadra não é tarefa fácil e é na adolescência que começa esta transição. É uma fase importante para os filhos e também para nós. É a hora de irmos saindo da quadra e juntarmo-nos a torcida. É difícil, mas pode trazer muita satisfação. A base principal da teoria está dada. Só nos resta ver o que acontece quando o juiz apitar o início da partida.

Coração na mão, grito na boca e orgulho no peito. Nesta hora, só posso torcer. Vai lá, meu filho. Como é bom ser pai.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mão dupla para a tecnologia nas nossas vidas

Sempre houve um intercâmbio de valores entre as pessoas físicas (nós, os humanos) e as pessoas jurídicas (as empresas). Uma não passa inerente à outra. As empresas são afetadas pelos valores pessoais que trazemos incutidos na nossa personalidade quando ingressamos no trabalho, assim como, somos afetados pelos credos e a maneira formal e processual como as coisas acontecem num ambiente corporativo. As duas pessoas são, concomitantemente, afetadas pelo o que a outra traz consigo e ambas acabam levando um pouco do que a outra tem. E este é um caminho de duas vias.

Tenho reparado, porém, que a tecnologia da informação também vem sofrendo este intercâmbio entre as pessoas e as empresas. Isto não era comum, pois o sentido sempre foi das empresas para as pessoas. O uso da tecnologia nas nossas vidas pessoais só acontecia depois de muito esta ter sido adotada pelas empresas. Após um tempo de uso dela para o trabalho é que conseguíamos usufruir dos mesmos benefícios na vida pessoal.

Quando surgiram os primeiros grandes computadores, estes eram para poucas e grandes empresas. Sua concepção e desenvolvimento visavam ajudar as corporações a solucionar os problemas que afetavam o seu dia a dia, como questões financeiras, de recursos humanos e de produção. Nós, os humanos, se tínhamos algum contato com esta tecnologia era pensando somente nas questões da empresa.

A tecnologia foi evoluindo e foi inventado o computador pessoal (PC). Este já podia ficar sobre uma mesa convencional de uma pessoa, mas ainda surgiu como um equipamento das empresas e usado internamente para o trabalho. Passado algum tempo, o preço caiu e o PC tornou-se popular também no mundo das pessoas físicas. Aqueles que primeiro o adotaram para uso pessoal, viveram as primeiras experiências da transferência da tecnologia da informação do meio corporativo para o interior de suas próprias casas.

Esta mesma transferência ocorreu com os hoje tão “batidos” e-mail e planilha de cálculos. Estas tecnologias foram difundidas largamente no ambiente corporativo e, posteriormente, invadiram cada um que possuía um PC. Acessei o meu primeiro “inbox” em um terminal de um mainframe,  longe de ser algo para uso pessoal. Hoje, contudo, acesso meus e-mails (tenho mais de um sim) pelo meu PC, pelos meus smartphones e de qualquer equipamento que tenha algum acesso a internet. Aquilo que começou com uso restrito nas empresas invadiu a nossa vida pessoal.

De uns anos para cá, porém, o fluxo de adoção de tecnologia parece ter ganho uma nova direção, passando das pessoas para as empresas. Não que elas não continuem influenciando o uso de tecnologia nas nossas vidas pessoais, mas percebe-se agora uma mudança. As empresas também estão adotando tecnologias que foram primeiro adotadas por nós, as pessoas.

Há alguns anos atrás, planejei uma viagem aos EUA e defini a localização de hotel, roteiro, locais de visita, etc, usando um aplicativo baixado da internet que mostrava fotos de satélite de todos os lugares que eu iria passar. O uso era totalmente pessoal. Hoje, vejo emissoras de televisão, empresas globais, etc,  usando o mesmo aplicativo, quase que diariamente, para mostrar endereços em qualquer lugar do mundo. Senti-me um precursor, mas, na verdade, esta aplicação estava disponível para qualquer um que tivesse acesso a internet. Foi o simples fato de que as pessoas a adotaram antes das empresas.

Outro exemplo são as redes sociais. Seu uso é largamente difundido entre nós, pessoas físicas. As empresas, entretanto, estão se debatendo para entender como acompanhar o passo imposto pela adoção desta tecnologia. As redes sociais abriram novas formas de relacionamento entre as pessoas e as empresas se perguntam: “Devemos adotá-las ?”, “De que maneira ?”, “Com qual objetivo ?”. É mais uma tecnologia que ganhou forte adesão no mundo das pessoas e está migrando para o mundo das empresas.

Está claro que não há mais sentido único ou obrigatório na adoção da tecnologia. O caminho está aberto e tem duas mãos. Empresas e pessoas compartilham agora valores, credos e preferências tecnológicas. Nenhuma das duas partes consegue viver mais sem ser afetada pela outra, como deve ser em todo bom relacionamento. Fica a pergunta: Qual será a próxima tecnologia que vai mexer com as nossas vidas, seja como pessoa física ou jurídica, e de qual direção ela virá ?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Trabalho: onde está o limite ?

Cresci ouvindo que “o trabalho enobrece o homem”. Meu pai, a quem devo muito dos meus valores, repetia insistentemente esta frase, mesmo que eu tivesse apenas 14 anos e estivesse longe de ser um adulto que dependesse do trabalho. Este valor, porém, ficou fortemente gravado na prática. Nesta idade, já trabalhava com ele durante o verão para ganhar um “troquinho”. Ele foi justo e remunerou-me adequadamente. Enquanto meus amigos iam para a piscina do clube curtir o verão, eu e meu irmão ralávamos carregando caixas de bebida. Ao final do mês, porém, tínhamos um bom dinheiro para fazermos o que quiséssemos com ele. Isso se repetiu por, no mínimo, três anos seguidos.

Aprendi, assim, na minha adolescência, e comprovei logo no início da minha vida adulta, que trabalho não traz apenas dinheiro, mas uma satisfação muito forte. Um senso de realização magnífico. Sigmund Freud escreveu: “Para um homem ser feliz, basta trabalho e amor”.  Claro que estamos falando de um trabalho que nos estimula, que nos dá prazer. Quando assim o for, é fonte de felicidade. Mais que importante e necessário, ele é um pilar das nossas vidas. E me refiro a qualquer tipo de trabalho, desde aquele realizado por uma dona de casa, de um funcionário de uma empresa, de um profissional autônomo, de alguém que presta serviços comunitários, etc. Trabalho que, de alguma forma, traz uma satisfação para quem o realiza.

Preocupa-me, porém, quando vejo pessoas que levam a questão do trabalho tão a fundo que esquecem o outro lado da frase de Freud. Segundo ele, e conforme vejo e já experimentei, é preciso também amor. Aqui me atrevo a qualificar amor como amor por uma companheira, aos filhos, a si próprio, a saúde, ao próximo, a vida. Qualquer forma de amor que possa contrabalançar a dedicação e a energia que o trabalho nos exige.

Ninguém questiona a importância de atividades físicas nas nossas vidas. Correr, caminhar, pedalar, malhar ou jogar qualquer partida, comprovadamente, trazem benefícios para a nossa saúde e o corpo agradece. Passar dos limites nestas atividades, porém, treinando exaustivamente todos os dias, nos leva a entrar num processo de “overtraining”. Neste estágio, aquilo que deveria ser benéfico passa a ser um malefício. O saldo de energia tende ao negativo e o esporte deixa de ser algo saudável, mesmo parecendo que ainda nos mantêm felizes.

O álcool, se apreciado com moderação, pode ser elemento de descontração e aumento de sensação de prazer. Pode, contudo, se ingerido em quantidade e frequência alta, nos levar ao vício. O limite muitas vezes é tênue, mas, ao ser ultrapassado, inverte o sentido da coisa. Estamos sujeitos a ficar a alguns passos do alcoolismo, que é visto e tratado como uma doença.

Uso estes dois exemplos para chamar atenção ao fato de que o trabalho também possui uma linha tênue entre algo prazeroso, necessário, fundamental, e algo viciante, que deturpa, que pode trazer sofrimento a quem nos cerca. Trabalhar compulsivamente também pode ser visto como algo não saudável.

Não digo que não devemos focar no trabalho em muitos momentos importantes da nossa vida, da nossa carreira. Quem não ralou muito no primeiro emprego ? Quem não virou noites para fechar aquele negócio ou projeto ? Quem não dedicou finais de semana para mostrar que foi a escolha certa para aquele cargo ? Quem não trabalhou muito só para conseguir mais dinheiro ? Quem não fez tudo só para ver os filhos, os necessitados, os amigos... felizes ? Estas são situações normais da vida e vão ocorrer enquanto trabalharmos.

Estou falando daqueles que já se tornaram compulsivos em relação ao trabalho. Daqueles que esqueceram o amor de Freud, ou acham que o amor também vem do trabalho. Daqueles que, por anos, acham que podem abrir mão das relações, do cuidado da saúde, da família, do conhecimento, etc, em nome de “Não posso agora, tenho que trabalhar”. Sempre estão em estado de emergência e nunca saem. Assim como no esporte, o overtraining diminui o rendimento.  Ser um “workacholic” também não significa ter a melhor produtividade e nem ser o mais eficiente.

O corpo tem limites e estes limites vão encurtando com os anos. As relações humanas tem limites e, para não diminuirem, precisam ser cultivadas. Saber equilibrar trabalho com os demais aspectos da vida é uma virtude e deve ser festejada. As empresas também se beneficiam deste equilíbrio e, aquelas que estão a frente no seu tempo, incentivam esta atitude em seus colaboradores. A Betania Tanure, em seu livro “Executivos: Sucesso e (In)felicidade”, aborda com maestria os desafios na busca do sucesso pelo trabalho e o equilíbrio com a vida pessoal. Da resolução desta equação resulta a felicidade ou a infelicidade.

Antes de cruzar os limites, vale a pena buscar o equilíbrio.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Solidão e relacionamentos: tire proveito dos dois

Apesar da nossa condição fundamental de solidão (Irvin D. Yalom), a maioria de nós não gosta e foge dela. Precisamos de pessoas a todo momento a nossa volta para não nos deixar sós com nós mesmos (o nosso eu interior). Isto é o que eu tenho visto e sentido em muitas das minhas relações. Somos seres sociais e precisamos nos relacionar.

 

Já escrevi, porém, que acho que tanto a solidão quanto a sociabilização são importantes para nós. Cultivar relacionamentos íntimos ou mesmo superficiais são importantes para que possamos nos ver. As relações íntimas (parceiros, filhos, pais, irmãos, amigos, etc), principalmente, funcionam como um espelho nas nossas vidas e refletem muito nossas ações. Se somos alegres e felizes, normalmente esta é a energia que volta destes nossos entes queridos. Se estamos tristes e deprimidos, também podemos perceber na cara destas pessoas esta nossa condição.

 

Estar próximo de pessoas com alto astral é muito bom quando precisamos de uma mão para nos reerguermos de momentos difíceis ou simplesmente para manter nosso astral elevado. Buscar o carinho da família, o conselho de um colega que nos conhece há muito tempo  ou conversar com um amigo do peito, são todos momentos fundamentais para a preservação ou reconstrução da autoestima. Não adianta achar que acordar de manhã, se olhar no espelho e dizer "Eu sou o cara" é condição suficiente para uma autoestima forte e sustentável.

 

Precisamos, portanto, nos relacionar. Da nossa ação frente aos outros, vão surgir os feedbacks sinceros de quem de fato nós somos. E nada melhor que uma criança para o reflexo mais verdadeiro. Se nos munimos, porém, de uma persona que nada tem a ver com quem somos, a leitura nos conduzirá para um caminho errado, não sincero. 

 

Relacionar-se, assim, é muito bom e necessário. Mas relacionar-se só para fugir da solidão, pode ser um erro. Na ânsia de não ficar só, muitos se mantêm em relações ruins só para cumprir a agenda social, familiar, etc, ou mesmo por que não suportam ficar sozinhos. Isto quer dizer que não se bastam, não se aguentam a si mesmos. Antes mal acompanhado do que só. Criou-se uma inversão do famoso ditado. 

 

Fugir da solidão pode nos levar a um caminho não em sintonia com nosso verdadeiro Eu. Nossos reais desejos vem de dentro, do fundo do nosso coração, da alma ou do inconsciente, seja lá como queremos chamar. Eles brotam dentro de nós por uma voz difusa, difícil, muitas vezes, de interpretar.

 

Só a solidão nos permite de fato sentir. Mas sentir o quê ? Sentir o que está doendo ou incomodando. Sentir o que nos dá prazer, o que nos faz feliz, sem máscaras, sem personas. Esta condição, porém, de autoconhecimento, leva a um forte dilema que é a escolha. Muitos não querem ter que escolher e fogem da liberdade de viver como desejam. Toda escolha requer uma renúncia (jargão popular) e por isto é tão difícil. Momentos de solidão nos conduzem às dores, encarando de frente o que somos e sentimos, mas são fundamentais para a nossa evolução.

 

Por isso considero que as duas situações são importantes no nosso desenvolvimento como seres humanos. Só, para nos sentirmos. Relacionando-nos, para nos vermos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Qual é a minha idade ?

Quantos anos de fato eu tenho ? Sempre me pergunto isso e a resposta é que depende. Por que depende ? Por que tenho todas as idades. Biologicamente, nasci em 64. Para algumas coisas, ainda tenho 16 anos. Para muitas, tipo a corrida e o trabalho, ainda sinto que estou longe dos 40. Para outras, como a busca do conhecimento, acho que já estou pra lá dos 50, chegando nos 60.

Quando olho para meus filhos Gabriel e Pedro, vejo neles interesses, jeitos, gostos, etc, para a idade biológica que eles realmente tem. Pequenas variações, mas eles são o tempo que eles viveram até agora. Eu, porém, não me sinto assim.

No trabalho, provavelmente, estou muito próximo da minha idade biológica. Visto-me formalmente como quem ocupa uma posição de quem já tem senioridade e precisa representar a empresa com base em seus valores. Muitas vezes, porém, ajo com a energia e garra de quem ainda está construindo a carreira. Em outras, levo a experiência de quem parece já estar há muitos anos naquele lugar.

Na vida pessoal, o espectro é muito mais amplo. Na música, pela qual sou fissurado, isto fica muito claro. Até hoje cultivo um prazer enorme pelas primeiras bandas da minha vida, como Rush, Led Zeppelin, Black Sabbath, Queen, Pink Floyd, etc, sem deixar de adorar aquelas dos anos 80 e 90, como U2, Bon Jovi, Fish, Pearl Jam, etc. Porém, curto muito bandas desta década como Coldplay, The Killers, Linkin Park, Muse, assim como as meninas Norah Jones, Shakira, Amy Winehouse, etc. Qual de fato é a minha idade musical ?

Esses dias uma amiga minha me disse que eu me vestia igual a meu filho. Aquilo me deixou intrigado. "Será ?" pensei. "Vou ter que voltar à terapia e trabalhar isso". Na verdade, eu não sinto que estou copiando ele. Não tenho necessidade para tal. Sempre gostei de me sentir leve e mais esportivo na forma de vestir quando não estou trabalhando. Uso gravata e terno para o trabalho desde os meus 21 anos. Como preciso ser formal no trabalho, acho que me visto mais "sei lá como" na vida pessoal para contrabalançar.

E nos livros ? Curto temas atuais como os problemas causados pelos combustíveis fósseis, a sustentabilidade do planeta, o impacto das redes sociais no nosso comportamento, a fragilidade dos relacionamentos homem-mulher, etc, mas também busco conhecimento nos primórdios da psicanálise com Freud e Jung, na filosofia com Nietschke,  na história do mundo, na psicologia do amor, etc. Qual de fato é a minha idade literária ?

Fica portanto a pergunta de qual é nossa verdadeira idade. Acho que na metade da vida, temos todas as idades que vivemos e quem sabe algumas a mais. Depende dos nossos gostos, vontades, da nossa história. Simplesmente, depende do assunto.

Festas populares em Santa Catarina

Ontem participei de uma das festas mais populares do Brasil, a Oktoberfest de Blumenau. Se o GPS não indicasse que estávamos no estado de Santa Catarina, diria que fui transportado para a Alemanha ou mesmo para meu passado em Panambi, RS. E isso é o gostoso deste país. A cada região, um país diferente, peculiar.

Essa sensação já havia ocorrido na noite anterior, quando fui com meus pais na Marejada. Você não conhece a Marejada de Itajaí ? É a maior festa portuguesa e do pescado do Brasil. Faz parte do conjunto de festas populares aqui nos entornos de Blumenau. Itajaí, cidade portuária e vizinha da badalada Balneário Camboriú, hospeda esta festa que celebra a cultura dos açorianos e do alimento que vem do mar.

Na Marejada, comi um bolinho de bacalhau maravilhoso e curti uma banda que discorreu grande parte dos sucessos da MPB. A disputa ficava com um restaurante ao lado com um show de fado e com as duas cozinheiras na banca em frente que preparavam o camarão e as iscas de peixe frito. Quando elas começavam a cantar, todo mundo se virava e acompanhava o seu embalo e animação, ao invés do show de MPB. Isso sim que é popular!

Quando a protagonista principal do palco cantou "Sou caipira, pira, pora, nossa. Senhora de Aparecida. Ilumina a mina escura e funda..." lembrei que esta música me veio a cabeça no dia 12 de outubro. Recém tinha vindo de um final de semana maravilhoso no interior de São Paulo (caipira), era dia de Nossa Senhora de Aparecida e começava o resgate dos mineiros no Chile (ilumina a mina escura e funda). Que coincidência, não ?!

Ontem fui com meu pai na principal festa da região que é a Oktoberfest de Blumenau. Estava muito boa. Com todas as tradições que lembro da cultura alemã e que fizeram parte da minha infância no interior do Rio Grande do Sul. Festa aqui, para a galera mais nova, não significa balada. Festa aqui representa um grande salão, com amplo espaço para mesas, para dança, a banda e bares para bebida e comida.

A disposição do ambiente é muito similar aos das festas que frequentava quando criança. As mesas grandes, com bancos para sentar e não cadeiras, servem para juntar um monte de gente em volta delas. Nada de pequenos grupos. A ideia é que todos se confraternizem. A pista de dança, assim como todo ambiente, é clara e iluminada. Ninguém deve ter vergonha de dançar, pois a dança é uma expressão de alegria. Ambiente familiar e aconchegante, no sentido literal da palavra. Tudo regado a muito chopp.

Estas duas noites me fizeram pensar na importância destes rituais. Como eles congregam as pessoas e celebram o lado gostoso da vida. São festas populares que as pessoas pagam para participar. Todos buscam felicidade e diversão. Isto faz parte das nossas vidas. Todos ali saíram mais leves, com certeza.

Quando penso na vida urbana que levo em São Paulo, pergunto-me: "Quais são as minhas Marejadas e Oktoberfests ?" Fica um certo vazio. Posso dizer que é o Carnaval no Sambódromo ? Seria a Festa Junina no colégio ou no clube. O Carnaval, sem dúvida, é nossa festa mais popular, mas, a grande maioria, aproveita para viajar. As festas juninas não parecem ter a mesma pulsão das duas festas que participei. São restritas e, às vezes, acho que ocorrem para cumprir tabela. Gostoso sim é participar de uma festa que as pessoas escolheram participar. Ninguém convidou e, ao mesmo tempo, todos se convidaram.

Recomendo. Participem das duas. Cultura catarinense, alemã, portuguesa e brasileira.

E tudo tem um começo...

Hoje acordei e decidi colocar em prática a ideia de criar um blog. Há muito venho querendo escrever, porém sem saber como. Tenho me experimentado no facebook, em capítulos de um livro ou mesmo em cartas e e-mails. Nada até agora satisfez a minha vontade de colocar as coisas para fora.

Semana passada recebi uma mensagem de um amigo no facebook para olhar o seu blog. Dois dias depois, minha prima me falou de um blog de uma amiga sua. Estava se formando a ideia.  "Por que não o meu blog ?"  pensei. Tem dias que estou cheio de ideias que preciso colocar para fora e compartilhar com alguém. Um blog seria uma boa forma de satisfazer a minha vontade. E cá estou eu.

Logo que comecei meu projeto, sou solicitado a escolher um nome para o blog. Não precisei pensar muito, pois minha vontade é mesmo escrever sobre a vida e tudo que a cerca. "Viva la Vida" é um sentimento forte que me tem tomado de que devemos de fato viver a vida com tudo que ela tem, seja de bom ou mesmo de ruim. O bom é para curtir e celebrar e o ruim, que eu espero que seja muito pouco, para aprender e crescer. "Viva la Vida" hoje e daqui para frente, embalado pela música do Coldplay.

E por que eu estaria tão disposto a falar assim da vida ? A resposta certamente vem do momento de vida no qual me encontro. Digamos que estou no início da segunda metade da vida. Para este novo estágio, ainda sou uma criança e estou aprendendo muito. Entretanto, a primeira metade da vida me ensinou muita coisa. Construí um casamento que me deu muitas alegrias e dois filhos maravilhosos, criei uma carreira sólida, tive bons resultados, cultivei amizades, curti a família, mudei de cidades, nadei, pedalei, joguei tênis, joguei golfe e corri maratonas. De fato, não tenho nada do que me queixar. 

Nos últimos anos, porém, sinto que uma nova fase iniciou. Aquelas regras de vida tão cristalinas e que regeram a primeira metade da vida parecem um pouco difusas. Fui descobrindo que posso questioná-las. Não necessariamente quebrá-las, mas adaptá-las. Atuar para que elas sejam mudadas, evoluídas. Toda regra tem seu sentido de ser, mas o tempo pode mudar este sentido e, na segunda metade da vida, podemos e, quiçá devemos, questioná-las. Estamos mais maduros, mais inteligentes, com mais conhecimento. Será que de fato não devemos dar nossa contribuição para a evolução da vida ?

Pensando nisso é que resolvi começar este blog. Preciso escrever para colocar as minhas ideias e opiniões no papel. Assim, ali refletidas, eu mesmo posso avaliá-las melhor, com a vantagem de que num blog outras pessoas podem compartilhá-las, questioná-las, evoluí-las ou, mesmo, matá-las. A verdade é construída a cada dia e, o que hoje é verdade, amanhã pode não ser.

Vou colocar aqui minha visão sobre a vida. Ela se forma e evolui do passado que vivi e remexo de vez em quando, das minhas emoções e sentimentos, dos fatos que vivo diariamente, do meu trabalho, das conversas com amigos, colegas e família, dos livros que leio, etc..enfim, da vida. Gostei muito de dois livros que li da Lya Luft (Perdas e Ganhos e Múltipla Escolha). Dali tirei que a vida pode ser muito boa daqui até o fim, mas que temos que ser os atores desta história. Eu estou fazendo a minha parte.

Viva la vida hoy e siempre. Vejo vocês aqui. Contribuam.