terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em certas horas, só nos resta torcer.

A satisfação ao ouvir meu filho Gabriel, espreguiçado no banco de trás do carro, dizer “como é boa a sensação de ser campeão” foi enorme. Estávamos voltando do ginásio após a última partida do campeonato infanto-juvenil de basketball da Grande São Paulo, na qual o Clube Athlético Paulistano havia derrotado o Esporte Clube Pinheiros. Foi uma partida eletrizante e o sabor da vitória estava na boca de todos ali no carro que sobreviveram a ela. Esta mesma cena, nos últimos anos, tinha sido exatamente o oposto. Por três vezes tive que consolar meu filho dizendo que chegar em segundo também era importante. Não preciso dizer que a taxa de sucesso foi perto de zero nestas minhas tentativas.

Acompanho a carreira do meu filho no basketball há 6 anos. Os ensinamentos que a prática esportiva trouxeram a ele neste período, sem dúvida, são e serão de muita valia em sua vida. O esporte trouxe a responsabilidade e a disciplina para participar de treinos diários e também aos fins de semana. O espírito de equipe e a camaradagem são a base do sucesso do seu time. Teve momentos muito díficeis também, como perder o primeiro emprego com 12 anos. O Sírio, clube para o qual ele jogava, acabou com a modalidade logo ao final do primeiro ano do meu filho no basketball federado. Veio a transferência para o Paulistano e o aprendizado sofrido com os três anos consecutivos com derrota na última partida, após trabalho de todo um ano. O sabor de ser vice tantas vezes foi muito amargo.

Assim, o esporte vem ensinando ao meu filho os revezes que a vida nos prega todos os dias. Sem treinamento, disciplina, foco e determinação, nunca chegaremos lá e, muitas vezes, isso não é condição suficiente para tal. O adversário pode ter feito tudo isso e nos superar ou mesmo podemos perder pela autoconfiança exagerada. O esporte serve como uma escola única para colocar em prática as questões importantes da vida.

E o meu papel de pai ? Até onde ele foi nesta história ? Por vários momentos tive vontade de entrar na quadra e empurrar meu filho para a cesta. Em outros quis gritar com ele, passar garra. Em muitos, apenas vibrar. Mas, ao final, tive que me contentar em ser apenas um espectador. Gritei refrões de “Vamos, Biel”, “É isso aí, meu filho”, “Defesa”, e dei aquela força na hora de levá-lo aos treinos ou debater o jogo após uma vitória ou mesmo derrota.

Certa vez, tive o privilégio de conversar com o Bernardinho, treinador dourado da nossa seleção masculina de voleibol. Perguntei a ele qual deveria ser a conduta de um pai frente a um filho atleta. Não esqueço uma frase que ele disse: “Seja um porto seguro e deixe o treinador fazer o papel dele”. O Bernardinho emendou dizendo que isto não quer dizer que não deveria apontar alguns caminhos, mas que meu filho, para a missão do basketball, não poderia ter dois técnicos. Tem sido muito difícil me segurar na arquibancada e não querer estar no banco de reservas dando instruções.

Hoje, por meio desta jornada do Gabriel no esporte, tenho muito claro qual é o papel que acho que nós pais devemos ter em relação ao filhos. Devemos suportá-los, orientá-los, torcer por eles, estar presentes, mas, não dá para entrar na quadra por eles e querer jogar no lugar deles. Temos que nos contentar em ficar na arquibancada e torcer. Acreditar que tudo aquilo que ensinamos, junto com os ensinamentos dos treinadores e companheiros que passaram na vida deles, possam trazer o efeito positivo que queremos.

Nossos filhos, a cada nova situação, terão que pesquisar as suas bases de ensinamentos para tomar suas próprias decisões. A medida que chegam à fase adulta, passarão a jogar por suas próprias pernas e nós pais não poderemos e nem deveremos entrar na quadra para jogarmos no lugar deles. Gritaremos de fora, mas não poderemos viver a vida deles. Podemos ser treinadores ou torcedores, mas não somos jogadores substitutos. Temos que ser jogadores atuantes, mas das nossas próprias vidas. Não estamos aqui para viver a vida de ninguém, senão a nossa.

Na quadra de basketball, assim como na quadra da vida, nossos filhos caem, se machucam, vencem, choram, gritam. Devemos estar sempre lá para acompanhar as suas emoções, boas ou ruins. Segurarmo-nos para não entrar na quadra não é tarefa fácil e é na adolescência que começa esta transição. É uma fase importante para os filhos e também para nós. É a hora de irmos saindo da quadra e juntarmo-nos a torcida. É difícil, mas pode trazer muita satisfação. A base principal da teoria está dada. Só nos resta ver o que acontece quando o juiz apitar o início da partida.

Coração na mão, grito na boca e orgulho no peito. Nesta hora, só posso torcer. Vai lá, meu filho. Como é bom ser pai.

2 comentários:

  1. Alê, é muito mais fácil falar, ou escrever, do que agir. Tem coisa mais difícil do que deixar um filho tomar uma decisão errada, simplesmente para deixá-lo tomar a decisão sozinho ?

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  2. Tu és um escelente PAI e teus filhos tem muito orgulho de ti pq tu sempre os apoiastes em todas as suas escolhas, sejam elas felizes ou frustantes...Meu pai me disse outro dia que é dificil estar presente em todas as etapas de seus filhos e que só agora as 65 ele consegue participar mais conosco e ficou admirado ouvindo tuas historias de vida e saber que tu vive, sofre e participa de tudo desde os primeiros passos de teus filhos...Seja assim sempre, tu és especial !!! bjo da tua amiga Laine.

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