domingo, 17 de novembro de 2019

A vida só apresenta caminhos alternativos para quem se move

A vida só apresenta caminhos alternativos para quem se move


Quem na vida já não passou por momentos em que se sente incomodado com a fase em que está vivendo, frente ao trabalho ou mesmo os desafios profissionais, mas fica um tanto paralisado, sem mudar a situação?  Não foi diferente comigo ao longo dos mais de 35 anos de carreira profissional até aqui. Em muitas dessas situações, encontrei alternativas sozinho e mudei o cenário. Porém, em três momentos importantes, fui buscar ajuda de um profissional, um coach, que me ajudou a refletir sobre o que de fato estava me incomodando e sobre alternativas de mudança e a encontrar um novo caminho a trilhar. Afinal, ficar parado não seria uma opção. Permita-me, então, compartilhar minhas experiências em cada um desses momentos decisivos na minha carreira. 
Meus primeiros 12 anos profissionais foram dentro de uma carreira técnica na área das Ciências da Computação, na qual me graduei. Foi um período praticamente só de ascensão profissional. Fui de técnico a gestor de área e atuei em várias empresas diferentes. Quando entrei na IBM, as dúvidas e anseios começaram a brotar. Abri mão de cargo gerencial e diminuí salário, mas apostei no longo prazo que nela vislumbrei. Após 2 anos na área de pré-vendas técnica, assumi cargo de gerente de contas de grandes empresas. A transição de uma carreira técnica para uma carreira em vendas não foi fácil. Migrei de um mundo mais controlado, onde eu dominava quase todas as variáveis, para um mundo menos controlável, em que novas competências eram necessárias. A ansiedade por lidar com estes novos desafios não me deixava tranquilo e, consequentemente, meus resultados ficavam muito aquém do grande profissional que fora antes. Foi neste momento que um amigo sugeriu-me procurar um coach profissional. 
A primeira experiência com um coach foi um tanto estranha. Nunca, até aquele momento, havia recorrido a um profissional a me ajudar a atuar sobre um problema, seja na vida profissional ou mesmo pessoal. Sempre lidei sozinho com os problemas e acabei saindo com as soluções do outro lado. Mas a Crismeri(*1) foi me deixando à vontade a cada encontro e juntos, acredito, fomos guiando o trabalho. Em um determinado momento, estava claro que na nova missão que havia assumido, novas competências, habilidades e preferências eram demandadas. Eu, porém, naquela altura da vida, não tinha um grande autoconhecimento. Não tinha realmente claro quais eram as minhas preferências e habilidades para lidar com desafios bem diferentes dos que havia enfrentado no meu primeiro terço da carreira. 
A Crismeri sugeriu aplicarmos uma técnica para ajudar a descobrir quem eu era em termos de preferências naturais. Passadas duas sessões, descobri que era um INTJ, ou seja, uma pessoa naturalmente introvertida, intuitiva e racional. Claro que não levei ao pé da letra o que aquelas quatro letras do MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) queriam dizer, mas elas me ajudaram a perceber o quanto ser introvertido tinha a ver com a forma como eu, naquele momento,  dispendia e recuperava minha energia. Atuar na área técnica ou em relacionamento de vendas era muito distinto. Ser intuitivo era ótimo para um lado do meu trabalho, mas estar muito mais atento a fatos e detalhes do presente, era fundamental para lidar com os negócios. Enfim, fui aplicando aquele autoconhecimento adquirido e moldando a nova carreira às minhas preferências naturais. No ano seguinte, os resultados vieram e superei, em muito, as metas, sendo premiado por isso. 
Passados vários anos de novas mudanças e transições, também no campo pessoal, atingi uma fase bem madura em termos profissionais. Completei os 30 anos de carreira no mesmo ano em que fiz 50. Dá para imaginar o número de pensamentos e conflitos internos nessa fase da vida. Estava há 3 anos trabalhando na IBM em Porto Alegre e com a sensação de já ter completada a missão que me fora dada lá após a transferência, vindo de São Paulo. O meu incômodo interno começara a chamar a atenção da minha esposa e esta me recomendou procurar um terapeuta. Não era o caso, pois o problema não era pessoal e sim profissional. Lembrei do sucesso do meu trabalho de coach no passado e fui atrás de ajuda novamente. 
Nos encontros com Tatiana (*2), coloquei para fora todos os meus anseios com a carreia naquele momento. Falei das minhas dúvidas ligadas ao momento de vida profissional após os 50 anos, se deveria, enfim, sair da IBM, mudar completamente de área de atuação e muito mais. Foi um período de vários pensamentos passando pela cabeça e poucas alternativas claras. Novamente, fui submetido a algumas técnicas que me fizeram refletir sobre quem eu era, o que queria e do que gostava. Parecia besteira, mas, empenhado em realizar estas alternativas, fui me dando conta do que realmente importava, como se me vendo frente a um espelho.
Sai deste período de coaching com três importantes constatações que nortearam a minha carreira para os próximos anos. A primeira grande constatação foi que a indústria em que eu havia atuado até então, que era a Tecnologia da Informação, continuava uma grande paixão, continuaria sendo de extrema importância para o mercado e não havia necessidade alguma de eu mudar de área, desprezando o legado que já havia construído. A segunda era que não precisava sair da IBM, pois ela era grande o suficiente para me oferecer inúmeros outros desafios. Precisava, sim, sair da área em que atuava e voltar à São Paulo. A terceira e última constatação foi que, naquele momento de carreira, era importante fazer uma transformação profunda para atuar mais com conteúdo e inovação. O meu know-how seria o meu capital e eu precisava alavancar uma nova área de atuação dentro da TI. Menos de um ano depois do fim daquele coaching, já estava morando em São Paulo, trabalhando ainda pela IBM, deixara de ser Executivo de Outsourcing para atuar com Business Development, havia descoberto uma nova área de atuação, a Inteligência Artificial, e, para a qual, passara a investir horas e horas de estudos aos fins-de-semana. Um pouco mais à frente ainda, passei a liderar a área de Watson para América Latina. Como podem perceber, este não foi um caminho alternativo que veio por acaso. Foi fruto de movimentos que realizei, mas com ajuda inicial de um coach.  
            A última experiência é bem recente e estou vivendo em decorrência de seus resultados e, alguns destes, ainda nem coloquei em prática. Mas vamos a história. Há quase dois anos atrás senti que meu momento na IBM estava prestes a chegar a um fim e não queria que esse momento fosse uma surpresa desagradável. Também queria preparar uma nova carreira e sabia que ela poderia passar por Inteligência Artificial, já que era um campo da TI que eu havia aprendido a gostar muito, vinha estudando há quase 3 anos e trabalhava com ele na IBM. Resolvi buscar ajuda de um coach que pudesse me ajudar nesta transição. 
            No primeiro encontro com o Charles(*3), estava tenso, ansioso e cheio de “coisas” na cabeça. Ele, com sua larga experiência de vida profissional similar a minha, com suas habilidades naturais e com seus aprendizados na nova profissão de coaching, foi me acalmando e me ajudando a colocar para fora meus sonhos e desejos profissionais e pessoais e a realizar o meu ferramental atualizado de habilidades e competências. Tivemos conversas muito elucidativas e novamente provocaram uma imersão no autoconhecimento, bem mais profundo agora do que na minha primeira experiência com coaching. É incrível como as coisas foram ficando mais claras à medida que falávamos e eu executava ações que definia como consequência de suas provocações e estímulos. De uma ansiedade grande inicial, passei para, no nosso último encontro, uma enorme motivação e autoconfiança. Foi um processo similar a mudar da água para o vinho, mas cheio de caminhos e escolhas. 
            Com o Charles, realizei questões importantes como meu sonho antigo de passar uma temporada no exterior, sobre competências profundas em torno do aprendizado, da criação e do compartilhamento (sem esta, não estaria aqui escrevendo), sobre a longevidade profissional, mesmo que atuando de maneira distinta, e sobre o momento adequado para encerrar meu ciclo vitorioso dentro da IBM. Enfim, fui colocando em prática cada um destes aprendizados e realizando as ações necessárias para concretizar um plano transformador, saindo de uma posição de gestão de ofertas de Watson na IBM Brasil, em São Paulo, para a de estudante de Inteligência Artificial, em Toronto. Mas isto não é o fim, é apenas mais uma etapa na minha vida profissional necessária para alcançar novos desafios. 
            Se você ficar parado, nada mudará na sua vida. As alternativas surgem quando você começa a se movimentar. Entretanto, muitas vezes você não sabe para onde se mover e isto gera ansiedade, culminando novamente com a paralisia. Em várias fases da minha vida, fui buscar ajuda justamente para sair da inércia e começar a me movimentar. Às vezes, a ajuda veio de dentro de casa, da minha grande companheira, e às vezes, de amigos e colegas. Porém, ninguém consegue olhar, de fato, dentro de você e é aí que um coach profissional pode ajudar. Passei por isto em vários momentos e sei o quanto eles foram importantes para o realinhamento da minha rota. Só posso agradecer pela ajuda que recebi. Obrigado, Crismeri, Tatiana e Charles. 

*1 - Crismeri Delfino Corrêa – Possibilità
*2 - Tatiane Corrêa – Staff Consultoria em RH (na época do coaching)
*3 - Carlos Henrique Almeida (Charles) - Leadevelop

domingo, 25 de março de 2018

Uma mulher sempre pronta para as mudanças


Uma mulher sempre pronta para as mudanças

Há alguns dias atrás, durante uma entrevista, fui perguntado sobre os impactos da inteligência artificial nas profissões e que conselho daria aos meus filhos frente às mudanças que ela pode trazer nas relações com o trabalho. Lembro de ter dito que o melhor a fazer é estar sempre estudando e pronto para novos desafios. Disse também que, na verdade, meus filhos provavelmente não terão uma única profissão e sim várias ao mesmo tempo e que, se a tecnologia vai suplantar alguma de suas competências, quem tiver muitas sempre estará à frente, tirando vantagem da situação.
Passados alguns dias, aquele pensamento me volta e percebo que, consistente com o que disse, esta sempre foi a forma como eu conduzi a minha própria vida. Ou seja, acredito na constante busca de novos conhecimentos e habilidades, no engajamento em projetos que trazem satisfação e retorno e em uma vida saudável em todos os aspectos. As ações práticas ligadas a este pensamento fizeram de mim um profissional sempre em evolução e me ajudaram a transpor inúmeras disrupções tecnológicas na carreira. Portanto, tenho fortes convicções de que são a base para enfrentar o desafio da nova relação que está sendo criada entre homens e máquinas.
Se sinto orgulho da minha própria trajetória profissional, ainda é pouco comparado com a admiração que sinto pela carreira e atitudes ao longo da vida profissional da Fabiane, minha companheira e esposa há mais de 30 anos. Posso até dizer que demorei muito a enxergar as qualidades que fazem dela uma profissional amada e respeitada por seus clientes. As atitudes e habilidades que ela foi desenvolvendo com o passar dos anos servem como um paralelo claro para qualquer um, em qualquer profissão, ameaçado ou não por disrupções tecnológicas ou de qualquer outra natureza.
Quando conheci a Fabi, ela era uma estudante de Educação Física. A escolha já era uma consequência natural baseada em uma educação voltada ao ensino e seguindo os passos da mãe, que é catedrática até hoje. A base estava plantada: educação, saúde e pessoas.
Ao casarmos, a Fabi teve que mudar de cidade e universidade, mantendo o curso na mesma área. Começou ali sua vida em Porto Alegre. Trabalhava de dia como professora e a noite suava para fazer 3km, em 15 minutos, na pista de corrida, para passar na prova de atletismo. Passados 2 anos, ela olhou para o lado e viu que eu estava me divertindo muito com o desenvolvimento de aplicativos e com projetos de dados em um grande banco do Sul do país. Como o dinheiro vinha mais fácil pelo meu lado com a profissão em Tecnologia da Informação, ela logo pensou: “Por que não fazer isso também? ”
A matrícula em um curso de programação (é assim que nós chamávamos há 30 anos o desenvolvimento ou codificação de aplicativos) foi rápida. Ela adorou o curso e curtiu muito a criatividade ligada à construção dos programas. Logo que concluiu os estudos, conseguiu um emprego e mudou de área: de professora à programadora de computador. Percebem a mudança?
Com a nova profissão, lacunas de conhecimento na nova área se abriram. A Fabi quis mudar novamente de curso superior. Eu aconselhei-a a concluir o curso e depois buscar uma formação na nova área (experiência própria de quem mudou, depois de 3 anos, de Engenharia para mais 4 anos de Ciências da Computação). Ela acabou se formando em Educação Física pelo IPA e, posteriormente, fez um pós-graduação em Análise de Sistemas pela PUC-RS. Era um espectro amplo de habilidades que pouco tinham de conexão naquela fase da vida.
Bons anos se passaram. As mudanças de emprego ajudaram-na a criar experiências em negócios e com relacionamentos distintos. Os dois filhos vieram e enriqueceram nossas vidas. Eles tornaram a jornada ainda mais prolongada, forçando um equilíbrio diário com trabalho, marido (eu, claro), cuidado com a saúde, vaidades e muito mais. Isto não a impediu de crescer de posições e complementar sua carreira com conhecimentos adicionais. Até o Kumon ajudou-a a reforçar a base matemática. E quando as necessidades de negócios dos seus clientes internos começaram a fazer pouco sentido para que ela as traduzisse para um programa de computador, ela entrou no curso de pós-graduação em Marketing na ESPM.
A vida parecia bem equacionada até um dia em que eu apareci com uma oportunidade de mudança pela IBM, onde já trabalhava há 6 anos, para São José dos Campos (SJC). Ela teve que largar o emprego e o curso na ESPM. Felizmente, o Sistema ERP que ela ajudou a construir, precisava ser implantado em uma fábrica em Taubaté. Lá foi a Fabi atuar como consultora. Que novas habilidades teve ela que desenvolver "on-the-job" enquanto implantava, com os usuários da fábrica, o próprio sistema que ela ajudara a construir? O sistema tinha forte atuação logística, o que a levou a fazer um curso de pós-graduação em Logística na FGV, em São José dos Campos. Novas competências a serem adquiridas.
Um ano após, apareço eu com a novidade do dia: "Fui promovido e transferido para São Paulo". A Fabi, naquele instante, estava iniciando uma academia de SAP para, de fato, ser uma consultora para implantação de sistemas logísticos. A academia era em São Paulo e nós ainda morávamos em SJC. Filhos ainda pequenos, marido trabalhando muito, tempos difíceis e mais e mais competências sendo acumuladas. Quando mudamos para São Paulo, ela precisava voltar à SJC para atender às aulas da pós-graduação em Logística. Essa, porém, ela concluiu. Já eram duas na sua conta.
A vinda para São Paulo trouxe muitas mudanças para a vida dela e da família. Foi difícil conciliar aquela nova vida com filhos pequenos, uma nova profissão onde todos queriam que ela viajasse e muitos outros fatores. Foi a hora de parar, pensar, refletir e mudar de profissão. O processo todo levou quase dois anos, mas culminou com voltar ao ponto de partida. Em uma cidade onde parecia que todo mundo corria e malhava, por que não retomar a sua formação original? E foi isto que aconteceu. A Fabi decidiu ativar seu canudo de Educação Física.
O início foi dando aulas de graça como personal trainer para ganhar experiência. As primeiras grandes alunas/amigas começaram a surgir. Percebendo que as habilidades estavam muito defasadas, fez alguns cursos de especialização. Focada e consistente com a sua natureza, foi atrás de uma nova pós-graduação, Fisiologia do Exercício, pela Unifesp. Estavam aí novas habilidades e competências se solidificando. Aos poucos, seus alunos foram ganhando corpo e sua agenda estava completa. Alguns anos se passaram e a nova carreira se consolidou.  As várias habilidades que a Fabi incorporou ao longo das suas várias atividades e a maturidade se aproximando a tornavam uma profissional cada vez melhor e requisitada. Seus alunos gostavam muito das suas aulas.
Mais uma vez, sou eu quem quebro este ciclo. Desta vez, porém, foi de comum acordo com ela. Uma oportunidade de trabalho pela IBM em Porto Alegre (POA) nos fez voltar para onde começamos. Mudanças significam oportunidades e não foi diferente naquela vez. Escolhemos morar em um condomínio com mais de 250 casas, pois ele parecia ser um mercado de trabalho para a Fabi. E assim foi.
Ainda em São Paulo, a Fabi quis montar um grupo de corridas, mas nunca tirou do papel. Em duas semanas em POA já estava lançada a FabiDiet Assessoria Esportiva. Cinco novas alunas de corrida estavam inscritas e começaram a correr três vezes por semana com o grupo. Foi um ano inteiro de chuva e sol na cabeça para ir consolidando o seu projeto. A sua perseverança fez com que muitos aderissem à corrida. Algumas poucas alunas de personal training complementavam sua agenda profissional. Até que um dia uma grande ideia brilhou na sua mente e toda uma vida veio à tona.
A Fabi criou a primeira corrida Kids do Condomínio Atmosfera. O evento aconteceu em um domingo de outono reunindo 60 crianças. Camisetas com um lagarto estampado (o condomínio era quase que dentro de uma reserva florestal), música, frutas, fotos e muita animação coloriram o dia cinzento. O evento foi um sucesso. Junto das crianças, vieram pais e parentes. Mais de 200 pessoas vibrando com a molecada correndo e sorrindo. Ou seja, todas as habilidades acumuladas até então se juntaram para a realização daquele projeto. Da criação ao marketing, à venda, à entrega do serviço, à liderança de equipe, ao financeiro e à satisfação do cliente. A Fabi colocou tudo isso em prática, somando tudo que ela havia acumulado de competências em várias áreas distintas de conhecimento. Era a realização de que todo conhecimento adquirido um dia será usado.  
Depois da corrida Kids I, veio a II e a III. Estes foram eventos de um dia, em anos distintos. Embalada pelo êxito desses eventos, criou um projeto ainda mais ambicioso: o Projeto Verão. Ele era uma "colônia de férias" nas tardes de verão, ao longo de 4 semanas e dentro do condomínio. Todas as habilidades da Fabi foram levadas ao extremo e o sucesso fez com que o projeto fosse repetido em uma segunda edição, atingindo mais de 80 crianças nessa etapa. Em paralelo ao trabalho com adultos e crianças, ela não se descuidava do trabalho voluntário com os velhinhos na igreja que frequentávamos. O sucesso, naquele momento, era todo dela.
Porém, em uma decisão envolvendo agora os quatro integrantes da família, resolvi aceitar um convite da IBM para regressar à São Paulo. A Fabi, novamente, teve que parar um projeto e começar um novo. Guerreira como é, não desperdiçou se quer uma semana de trabalho. Em menos de um mês, ela já tinha reconquistado algumas ex-alunas da sua atividade de personal training, resultado direto das suas qualidades e da forma como lida com seus clientes.  
Estabelecidos novamente em São Paulo, ela aproveitou para fazer as devidas atualizações de conhecimento e remontar sua carteira de alunos. Aqui se faz necessário explicar uma expressão que usei anteriormente de aluno(a)/amigo(a). A Fabi possui um carisma próprio e múltiplas habilidades desenvolvidas que a fazem focar em seus clientes, com uma atuação e preocupação genuínas com suas vidas e objetivos. A consequência disso é que muitos acabam ultrapassando a fronteira de ser somente alunos ou clientes e acabam se tornando também amigos.
A vida em São Paulo ganhou um novo ritmo e a maturidade ajudou a simplificar as coisas. O lema da Fabi para uma vida saudável é composto por dois grandes blocos: atividade física e boa alimentação. Para o primeiro, ela é mestre, e para o segundo, uma fiel seguidora. Ela pratica o que fala e acredita de fato nisso. Porém, não ficava satisfeita em não poder ajudar suas alunas e alunos em encontrar o equilíbrio na vida com a alimentação. Para romper com essa insatisfação, ela voltou à sala de aula. Desde fevereiro, está cursando graduação em Nutrição pelo Senac-SP. Novas habilidades virão para complementar uma profissional nos seus agora 50 anos de vida. Tenho certeza que ela será grande nesta área também, dando mais um passo importante na sua carreira profissional e levando bem-estar para quem ela toca.
A história da Fabi é um bom exemplo das capacidades que nós humanos temos de enfrentar as situações disruptivas e abrir novas frentes de oportunidades na vida. Claro que isso requer constante capacitação para incorporar novos conhecimentos, experiências distintas para desenvolver novas habilidades e atitudes proativas que explorem as oportunidades de maneira positiva.

Não importa os desafios que estejam à sua frente. Buscar novos conhecimentos e habilidades sempre será a melhor maneira de vencê-los. Estamos muito longe de termos uma tecnologia que adquira tantos conhecimentos em áreas tão diversas, passando de habilidades técnicas à humanas e de uma maneira tão natural. Até lá, nossa capacidade de adaptação para viver uma nova realidade é uma habilidade a ser ainda mais explorada. A trajetória profissional da Fabi demonstra que isso é possível e serve de inspiração para todos nós. E veja que aqui não comentei quase nada sobre sua vida pessoal, como mãe, mulher e companheira, o que daria um tom ainda mais admirável e empolgante. Mas isso é tema para uma outra história.

Alexandre Dietrich

domingo, 13 de março de 2011

Pelo U2, vale uma aventura.

Curto U2 desde meados dos anos 80. Lembro de ter ouvido umas músicas deles em algum programa de TV na época que transmitiu o show que eles fizeram no Red Rocks, Colorado, o qual possuo hoje  em DVD. Os caras já eram bons e só melhoraram depois daquele show. No primeiro semestre de 87, eles lançaram o LP (Long Play) “Joshua Tree”. O disco, como chamávamos na época, foi simplesmente fantástico. Enquanto a paixão pelo U2 estava se consolidando e virando amor, uma nova paixão na minha vida estava nascendo. Naqueles mesmos meses, conheci a Fabiane e começamos a namorar. Ela, por sua vez, aderiu de corpo e alma às mesmas paixões.

O U2 está vindo ao Brasil no mês que vem e já ouvi algumas histórias sobre as façanhas de muitos para conseguir ingressos para o show. Tem gente que ficou até as duas da madrugada tentando acessar o site até que conseguiu comprar o tão sonhado ingresso. Na Veja de hoje, leio ofertas de pacotes da TAM com passagem aérea, ingresso e hotel inclusos. Uma super promoção. Os caras vão fazer 3 shows em São Paulo. De alguma forma ou de outra, todos que querem ver a banda, vão conseguir. E, acreditem, está muito fácil. Nem precisa ser tão fã assim para conseguir vê-los.

História mesmo é a que a Fabi e eu vivemos para curtir um show deles nos anos 90. Nada contra as outras, mas acho ques esta vale a pena ser lembrada. Era o mês de janeiro de 98. Eu tinha agendado uma viagem a trabalho para os EUA na metade do mês e voltaria para Porto Alegre numa sexta-feira. O show do U2 seria no sábado em São Paulo. A Fabi estava muito afim de “ver” o Bono ao vivo. Tive que acreditar que o que ela queria mesmo era só “ouvi-lo” ao vivo. Tentei convencê-la que eu estaria chegando de viagem, cansado, sem dinheiro e que não seria a hora daquela aventura. Fui “persuadido” a aceitar a ideia de que iríamos. A solução para os problemas financeiros, mas nada a ver com o cansaço, foi uma excursão de ônibus partindo de Porto Alegre a São Paulo na sexta, final da tarde, com hotel e ingressos inclusos. Convenci-me e parti para os EUA.

O meu voo de volta, que deveria ter chegado em Porto Alegre às 10:00 h de sexta-feira, chegou às 15:00 h. Apenas 5 horas de atraso. Deu tempo de chegar em casa, comer alguma coisa, trocar de roupa, dar um beijo na Fabi e zarpar para o local de encontro do tour para o U2 em Sampa. Acho que o Gabriel, meu único filho na época, nem estava lá para eu, ao menos, dar um beijo nele. Chegamos no horário e o ônibus, com aqueles nossos companheiros meio “pilhados”, saiu mais ou menos na hora marcada, ou seja, 18:00 h. Foi a hora que consegui relaxar um pouco. Vinte e quatro horas antes estava tranquilamente aguardando meu voo em Orlando, FL. Um pouco de paz ao lado da minha mulher para vermos o tão esperado show do U2 no Brasil, mais precisamente, São Paulo, a 1.100 km de estrada dali.

Bastaram 30 minutos para nos darmos conta que a aventura recém estava começando. Em pleno janeiro, verão no Brasil, o ar-condicionado do ônibus quebrou. Nem mal tínhamos saído de Porto Alegre e todas as janelas do ônibus tiveram que ser abertas. Era uma daquelas tardes de mais de 30 graus. A galera começou a se animar e vi que a tranqüilidade da viagem fora embora. Mas, até aquele momento, pelo U2, tudo valia. Pensei: “Vamos que vamos”. Calor, várias conversas, vento, etc, e os quilômetros foram sendo dominados.

No dia seguinte, após uma parada em Registro, a 200 kms de São Paulo e já no início da tarde, o guia da excursão trouxe a todos a informação de que iríamos direto ao estádio do Morumbi, pois, pelo horário que estávamos e pelas informações da movimentação ao redor do evento, não seria prudente irmos para o hotel antes do show. Lá se foi aquela imagem de tomar um banho e colocar a roupa transada para a noite. Iríamos com a roupinha do corpo mesmo, sem banho e sem retoques no visual. Mas era um show do U2 e, por eles, tudo valia.

Chegamos no estádio até com folga no tempo. Deu para pegar um bom lugar, relaxar e nos prepar para o grande evento. O show que vimos foi o “POP”. U2 é U2, mas, na minha opinião, uma das piores fases da banda. Porém, não é todo dia que se via esses caras no Brasil e, muito menos, para quem morava em Porto Alegre naquela época. Curtimos muito e nos deixamos levar pelos anos de admiração na  banda. Não preciso dizer que o show foi bom demais. Só quem já esteve presente num show e curte a banda para descrever aquela emoção. Terminado o espetáculo, era só relaxar, ir para o hotel e voltar para Porto Alegre. Quem dera que tivesse sido tão simples assim.

Saímos do estádio por volta da meia-noite. A multidão era grande e, para quem vinha de Porto Alegre, assustava um pouco. Encontramo-nos com o resto da turma lá pela 00:30 h, em frente ao ônibus. Alguns minutos depois, estávamos prontos para partir. Ups! Faltava uma pessoa. Ficamos quase duas horas aguardando e o cara não apareceu. Imaginem: mais de 30 horas da partida, sem banho, sem cama, sem um show pela frente. Todos estavam ficando irritados e, inclusive, nós. Eu, naquele passivo, ainda tinha que adicionar mais 24 horas de viagem aérea desde Orlando e outra noite sem cama. Mas o show valeu. Era nisso que eu me agarrava.

Chegamos no hotel às 3:00 h da madrugada. Só fui descobrir, alguns meses depois, pelo programa “Sai de Baixo”, que o Arouche não é assim um bairro dos melhores de São Paulo. O hotel, hoje sei, era bem a sua cara. Como chegamos em bando, eram vários “check-ins” a serem feitos e apenas um funcionário. Meia hora depois, enfim, nós, um quarto e uma cama. Seria a paz. Eu disse seria. Obviamente que a Fabi achou uma barata, o quarto não tinha ar-condicionado e a noite de verão fez questão de se mostrar presente. Mas o show valeu a pena, lembrava-me eu a todo momento.

Acordamos às 9:30 h. Tomamos um rápido café em algum bar ali nas requintadas redondezas do centrão de São Paulo. Logo depois, todos os companheiros de aventura estavam em frente ao hotel. Pegamos a estrada de volta. Mal eu sabia que a melhor parte da viagem estava por vir. Acreditem no que vou dizer. O ônibus inteiro foi cantando U2 de São Paulo a Porto Alegre. Acho que não paramos nenhum minuto. Cantamos todas as músicas. Às 6:00 h de segunda-feira chegamos em casa. E ali terminou nossa façanha de ver o U2. Só sendo muito fã para toda essa aventura. Mas valeu a pena.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Dois em três não é ruim


Tem uma música famosa do cantor Meat Loaf (Bat Out Of Hell – 1977) entitulada “Two Out Of Three Ain’t Bad”, que traduzo livremente para “Dois Em Três Não É Ruim”, a qual sempre gostei e, até hoje, quando a escuto, fico pensativo. Para quem não a conhece, as três coisas que ele se refere são: querer, precisar e amar. O personagem da música brada que ele quer a mulher, que ele precisa dela, mas que chamais irá amá-la e que ela deve se contentar, pois dois em três não é ruim. Uau! O enredo da música tem mais detalhes, mas essa questão de dois em três não é ruim me deixa sempre muito intrigado. Seria perfeito se ele oferecesse três em três para ela ?

Vejamos. Ele diz que a quer. O que seria querer ? Um desejo ou uma vontade ? Tem diferença entre desejar e ter vontade de ? Tem sim. Todos nós temos desejos. Eu gostaria de ter um Porsche Carrera, de dar a volta ao mundo em 80 dias ou de só curtir a vida. São exemplos de desejos. São visões de coisas que almejamos, vindas do subconsciente, mas que não necessariamente se transformam em ação. Vontade, por sua vez, é uma força e carrega uma ação. Quando temos vontade de algo, sempre parte de um desejo, mas já processamos e passamos a colocar ações em cima, impulsionadas pelo nosso ego. Querer ser um executivo de uma companhia e por isso trabalhar bastante e fazer um MBA é um exemplo de uma vontade. Ela carrega ações.

Querer, para mim, está associado a uma vontade e não a um desejo. O personagem da música, ao dizer que quer aquela mulher, está dizendo que tem mais que só um desejo. Ele é levado por uma força que o impulsiona para estar com ela, pois a admira, acha-a bonita ou ela possui qualquer outro conjunto de qualidades que realmente o movem para estar perto dela. Ele acredita que vale a pena estar com ela. O querer carrega bastante um lado racional. Existe uma lógica por trás e não é só um desejo sem conseqüências. Quando queremos algo, partimos de um desejo e colocamos nossa racionalidade para determinar que devemos colocar ações em busca dele.

O segundo ponto levantado pelo personagem é o fato de ele dizer que precisa dela. Bem, se está falando de um momento da vida dele que ele está muito por baixo e precisa do apoio dela ou se ele está com dificuldades financeiras e, temporariamente, precisa do suporte dela para ir levando a vida, ou se ele precisa do apoio dela para criarem um filho que tenham em comum, são situações que o “eu preciso” faz sentido. Agora, se for uma situação duradoura ou eterna, devo discordar. Ninguém deve precisar de alguém para viver. Excetuando as crianças até se tornarem adultos ou os idosos com o avançar da vida, ninguém deve precisar de outrem, eternamente ou por um período longo de tempo, para viver. Somos seres autônomos e perdemos o cordão umbilical quando nascemos. Passado o período da infância, temos que ser capazes de viver sozinhos, com a ajuda de outros sim, mas não eternamente dependentes.

O terceiro ponto, e bem aquele que ele não consegue oferecer a mulher, é o amor. Este sentimento que ninguém controla, mas que é capaz de controlar nossas vidas. Quem nunca o sentiu de verdade, não sabe a força que ele tem para transformar nossos destinos. É um sentimento que poucos conseguem explicar de onde vem, quando termina ou se termina ou não. É este sentimento que o personagem não consegue oferecer a ela, pois este ele não controla. Não escolhemos quem vamos amar, quando e porquê. Terapeutas dizem que o amor são projeções. Poetas dizem que são dádivas. Independente da escolha em quem acreditar, sempre será algo que fascina e que move montanhas.

Dá para amar e não querer ou precisar ? Dá para querer e precisar sem amar ? Dá para precisar e não querer e nem amar ? Ou se ama tem que querer e precisar ? Como ficamos ? E se for um em três ? Quantas questões ! É assim que sempre fico, mas hoje tenho uma opinião clara sobre este dilema.

Ah, o amor ! Quanta força ele tem por si só. Para muitos, basta amar que o resto vem a reboque. Isto, porém, pode ser verdade quando temos 15, 20 ou 25 anos. Nossas bagagens estão quase vazias, tipo início de viagem. Por si só a força do amor nos leva a qualquer lugar. Acho que nessa altura da vida, se fosse este o Um, não precisaria  dos outros Dois e estaria tudo ótimo. Não é bem assim quando se está na segunda metade da vida.

Não basta amar. Tem que querer. Parece óbvio, mas quando já temos uma bagagem grande de vida e cada escolha leva a uma ou mais renúncias, o amor por si só pode não ser suficiente para mover uma pessoa. Se o seu lado racional, representado pelo querer, não ajudar, o amor pode não bastar. Querer alguém para que este possa nos ajudar a ser uma pessoa melhor, para crescer na vida ou para compartilhar experiências de maneira racional e consciente é algo que passa a ter importância na vida mais madura. E seu peso aumenta para a tomada de descisão a favor da pessoa que se quer. Só querer, porém, sem amar, também pode levar a uma vida sem emoções e com decisões muito racionais. A vida é muito curta para se deixar tudo para o seu final.

Quanto ao precisar, bem, acho que já deixei claro que acho que não deveríamos precisar de alguém para viver. Mas isto, com o avançar da vida, pode mudar. Sem dúvida, quando nos aproximamos da fase final das nossas vidas, vamos repetindo o início delas e podemos nos tornar novamente dependentes. Mas, no auge da fase adulta e bem antes da fase terminal, acredito que deveríamos lutar para conquistar a nossa independência. É missão de cada um atingir este estágio.

Concordo, portanto, que dois em três não é ruim. É, na verdade, o melhor deles. Se eu fosse reescrever a música hoje, acho que ela ficaria mais ou menos assim: “Te amo, te quero, mas não preciso de você”. Acho que deixaria a relação mais forte e não permitiria que ela caísse no conformismo. Fácil falar, difícil encontrar. Tudo isto deve ser visto e pensado, porém, com o tempo de cada um em perspectiva.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Facebook: encontre seus amigos

Entrei pela primeira vez no Facebook no ano passado. Se existisse uma carteirinha para os associados, na minha estaria assim gravado: membro desde junho de 2010. E desde que me tornei membro deste clube social, sou um usuário freqüente. A ideia de começar a usar esta comunidade de relacionamentos veio em um domingo quando estava em casa com meus filhos. O Gabriel estava usando o Orkut e o Pedro pediu que eu criasse um usuário no MSN para ele poder interagir com a família e amigos. Naquele momento, percebi que estava ficando por fora e que, se quisesse acompanhar a evolução deles, teria que me inserir mais neste mundo dos relacionamentos virtuais.

Na hora que o notebook vagou para mim, abri uma conta no Facebook. Escolhi esta rede social, pois já havia sido convidado por outros amigos com idades similares a minha e ouvira dizer que a idade média dos usuários do Orkut era de 16 anos e do Facebook, 35. Definitivamente, esta seria mais a minha praia. Logo no início, fui me familiarizando com a ferramenta e construindo minha rede de amigos. Hoje tenho mais de 400 e, provavelmente, muitos dos que estão lendo esta crônica/texto/artigo (sei lá como chamar) clicaram em um link no Facebook para chegar aqui. Agora já sei que não tem idade para usá-lo.

O que começou com uma forma de eu entender esse novo mundo para acompanhar o crescimento dos meus filhos, logo se tornou algo que passou a me fascinar. Não pela tecnologia em si ou mesmo por me abrir muitas novas oportunidades de relacionamento na vida. O fascínio vem do fato de como esta aplicação está reescrevendo a maneira como todos nós estamos nos relacionando ou mesmo nos expondo ou abrindo. Se por um lado tenho mais de 400 amigos, aumentando a cada dia, os quais podem compartilhar um pouco da minha vida, estou morando quase o mesmo tempo no meu novo apartamento e não tenho relação alguma com os meus 5 vizinhos de porta. Parece que, quanto mais nos conectamos globalmente, mais nos afastamos localmente.

Por meio do Facebook, consigo saber novidades dos meus amigos que moram em várias partes do Brasil e do mundo. Recebo informações instantâneas de qualquer lugar onde eles estejam, com dicas, fotos e tudo que possamos imaginar. Tudo isso sem sair da minha casa, sentado em uma mesa de bar ou viajando e usando o meu iPhone. Não importa onde estou. Basta ter uma conexão e passo a me relacionar com os meus amigos. Se eles estão online na mesma hora que eu, podemos conversar em um chat só nosso. Posso mandar mensagens para apenas um amigo ou escrever no meu mural e todos vão poder compartilhar a mesma informação. É, de fato, uma ferramenta muito poderosa.

A medida que fui fazendo crescer a minha rede de amigos, fui descobrindo mais e mais as maravilhas desta aplicação. Reencontrei amigos meus da minha infância. Agora sei um pouco de como eles vivem suas vidas, se estão casados, se tem filhos ou seja lá que novidade tenham. Até fotos antigas, que nunca tinha visto antes, encontrei no perfil de um amigo meu. Elas fizeram-me voltar no tempo e sentir saudades daquela fase das grandes aventuras que foi a adolescência.

Mas a rede não é só para compartilhar momentos do passado. O presente está ali todo dia. O que mais se vê são as pessoas compartilhando tudo que é tipo de coisa dos seus dias presentes. Por trás de toda a tecnologia, da distância, da globalização, etc, estão pessoas e seus comportamentos. No momento que você passa a ter uma grande rede de amigos, fica fácil perceber como as pessoas são diferentes e possuem comportamentos diferentes entre si. O Facebook não muda esta característica intrínseca de cada um. Claro que podemos usar uma máscara e interpretarmos um papel neste campo virtual ao nos relacionarmos, mas, com o tempo, todos acabam deixando a sua marca pessoal conhecida no mundo real. 

Tenho todo o tipo de amigos. Tem aqueles que adoram o Facebook tipo BBB: só para dar uma "expiadinha". Compartilham muito pouco, mas adoram seguir o que os outros amigos estão dizendo ou mostrando. Tem aqueles que querem que todos saibam onde eles estão. Em qualquer lugar que entrem, dão um jeito de publicar no seu mural a sua localização. Tem aqueles que adoram compartilhar momentos importantes nas suas vidas e publicam punhados de fotos. Tem aqueles que gostam de chamar atenção para fatos importantes do nosso país, para as nossas vidas ou para uma causa a ser seguida. Tem aqueles que usam o Facebook para fazer propaganda de alguma coisa. Tem outros que usam o potencial desta aplicação para dar uma importante notícia. Tem aqueles que deixam de olhar televisão para acompanhar as novidades “postadas” pelos amigos. Tem aqueles que querem compartilhar ideias. Ou seja, o que não faltam são motivos e formas de usá-lo.

Eu, na verdade, passei a usar o Facebook para tudo isso. Sinto-me mais próximo de todos meus amigos e conhecidos, mas, apesar do imenso potencial para relacionamentos desta ferramenta, ainda acho que não tem nada como sentar com um amigo ou familiar e bater um papo, olho no olho, para contar todas as novidades e conversar sobre qualquer assunto. Como tudo, porém, aproveito para usufruir do melhor dos dois mundos.  

domingo, 21 de novembro de 2010

Imprevistos: alertas da vida

Quando menos esperamos, os imprevistos ocorrem. São aqueles acontecimentos nas nossas vidas que mudam tudo. O rumo delas acaba não sendo o mesmo após estes fatos. E do que eu estou falando ? Que imprevistos são estes ? Podem ser acontecimentos negativos ou positivos, mas normalmente são fatos do mundo externo que nos cerca. Muito difícil eles virem do mundo interno, pois é mais raro acordamos e dizermos que aconteceu um grande fato durante uma noite de sono e,  a partir desse, nossas vidas seriam alteradas.

Estou me referindo àqueles gatilhos que nos acontecem na vida, tais como, uma proposta de um emprego ou de um cargo novo, uma demissão, uma doença grave conosco ou alguém próximo, uma separação conjugal, a descoberta de uma traição de um amigo, uma grande paixão ou mesmo a morte de um ente querido. Qualquer fato destes vai trazer, com certeza, uma mudança de curso nas nossas vidas. Impossível passarmos à margem deles.

Agora, será que todos eles são mesmo imprevistos ? Não quero dizer que eles já estivessem escritos e poderíamos senti-los se aproximarem. Acidentes ou premiações acontecem, mas, em quantas vezes, se fizermos uma reflexão profunda, já não tivemos alguma sensação de que algo assim estivesse por vir. Nem sempre uma doença, uma separação, uma demissão ou mesmo uma paixão vem sozinha, sem ser precedida de sinais. Simplesmente, às vezes, não queremos enxergá-los.

Infelizmente, a maioria de nós adora uma zona de conforto. Algumas, de fato, são boas, mas tendem a nos deixar lentos, não criativos e preguiçosos. E, nesta inércia, acabamos não querendo ver ou ouvir os sinais que a vida nos passa. Parece que eles vão ficando armazenados em algum compartimento que fica entre o inconsciente e o consciente. Se trouxermos eles para o consciente, pronto, teremos que sair da zona de conforto e tomar alguma atitude. É mais fácil fazer de conta que eles não existem, virar de lado e ir seguindo a vida. Até que um dia, a vida nos prega uma peça e o fato rompe no mundo externo e vem a nossa consciência.

E agora ? O que fazer ? Se for um acontecimento bacana, que tende a transformar nossas vidas para um patamar de maior felicidade,  dá para relaxar e só curtir ? Provavelmente, não. Mesmo sendo algo positivo, como um novo emprego ou uma grande paixão, temos que estar atentos para saber aproveitar a boa chance. Gosto de dizer que são dádivas que recebemos, mas cabe a nós saber como vamos lidar com elas. São diamantes, mas em sua forma crua. Se não colocarmos energia de nossas vidas para lapidá-los, eles nunca se transformarão em jóias. Transformar uma paixão em amor, exige esforço. Transformar um emprego novo em um sucesso profissional, exige esforço. Não dá para deixar na mão da vida e acreditar que estas coisas sozinhas vão acontecer.

E quando os acontecimentos são ruins, tristes ou que abalem profundamente nossas emoções ? Difícil convencer alguém que seriam dádivas. No entanto, também acho que devemos encarar como oportunidades que a vida está nos colocando para refletirmos sobre como a conduzimos até então e se é assim que queremos conduzi-la dali para frente. Por mais que tenha muita dor associada ao acontecimento, ainda assim acho que é um grande alerta que a vida está passando para mudarmos. Pode ser a conduta com a nossa saúde, a relação com a carreira profissional, como vínhamos lidando com a relação a dois ou a importância que dávamos para as pessoas que nos cercam. Um fato forte no mundo externo pode ser uma grande oportunidade para revermos nossa conduta de vida.

Podemos ficar sentados e esperar que as coisas aconteçam ou tornarmo-nos observadores da nossa própria vida e senhores dos nossos destinos. Que a vida vai nos tirar da zona de conforto a toda hora, disso eu não tenho dúvida. É nossa atitude antes ou mesmo depois que os fatos acontecem que nos torna diferentes e com mais ou menos chances de sermos felizes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em certas horas, só nos resta torcer.

A satisfação ao ouvir meu filho Gabriel, espreguiçado no banco de trás do carro, dizer “como é boa a sensação de ser campeão” foi enorme. Estávamos voltando do ginásio após a última partida do campeonato infanto-juvenil de basketball da Grande São Paulo, na qual o Clube Athlético Paulistano havia derrotado o Esporte Clube Pinheiros. Foi uma partida eletrizante e o sabor da vitória estava na boca de todos ali no carro que sobreviveram a ela. Esta mesma cena, nos últimos anos, tinha sido exatamente o oposto. Por três vezes tive que consolar meu filho dizendo que chegar em segundo também era importante. Não preciso dizer que a taxa de sucesso foi perto de zero nestas minhas tentativas.

Acompanho a carreira do meu filho no basketball há 6 anos. Os ensinamentos que a prática esportiva trouxeram a ele neste período, sem dúvida, são e serão de muita valia em sua vida. O esporte trouxe a responsabilidade e a disciplina para participar de treinos diários e também aos fins de semana. O espírito de equipe e a camaradagem são a base do sucesso do seu time. Teve momentos muito díficeis também, como perder o primeiro emprego com 12 anos. O Sírio, clube para o qual ele jogava, acabou com a modalidade logo ao final do primeiro ano do meu filho no basketball federado. Veio a transferência para o Paulistano e o aprendizado sofrido com os três anos consecutivos com derrota na última partida, após trabalho de todo um ano. O sabor de ser vice tantas vezes foi muito amargo.

Assim, o esporte vem ensinando ao meu filho os revezes que a vida nos prega todos os dias. Sem treinamento, disciplina, foco e determinação, nunca chegaremos lá e, muitas vezes, isso não é condição suficiente para tal. O adversário pode ter feito tudo isso e nos superar ou mesmo podemos perder pela autoconfiança exagerada. O esporte serve como uma escola única para colocar em prática as questões importantes da vida.

E o meu papel de pai ? Até onde ele foi nesta história ? Por vários momentos tive vontade de entrar na quadra e empurrar meu filho para a cesta. Em outros quis gritar com ele, passar garra. Em muitos, apenas vibrar. Mas, ao final, tive que me contentar em ser apenas um espectador. Gritei refrões de “Vamos, Biel”, “É isso aí, meu filho”, “Defesa”, e dei aquela força na hora de levá-lo aos treinos ou debater o jogo após uma vitória ou mesmo derrota.

Certa vez, tive o privilégio de conversar com o Bernardinho, treinador dourado da nossa seleção masculina de voleibol. Perguntei a ele qual deveria ser a conduta de um pai frente a um filho atleta. Não esqueço uma frase que ele disse: “Seja um porto seguro e deixe o treinador fazer o papel dele”. O Bernardinho emendou dizendo que isto não quer dizer que não deveria apontar alguns caminhos, mas que meu filho, para a missão do basketball, não poderia ter dois técnicos. Tem sido muito difícil me segurar na arquibancada e não querer estar no banco de reservas dando instruções.

Hoje, por meio desta jornada do Gabriel no esporte, tenho muito claro qual é o papel que acho que nós pais devemos ter em relação ao filhos. Devemos suportá-los, orientá-los, torcer por eles, estar presentes, mas, não dá para entrar na quadra por eles e querer jogar no lugar deles. Temos que nos contentar em ficar na arquibancada e torcer. Acreditar que tudo aquilo que ensinamos, junto com os ensinamentos dos treinadores e companheiros que passaram na vida deles, possam trazer o efeito positivo que queremos.

Nossos filhos, a cada nova situação, terão que pesquisar as suas bases de ensinamentos para tomar suas próprias decisões. A medida que chegam à fase adulta, passarão a jogar por suas próprias pernas e nós pais não poderemos e nem deveremos entrar na quadra para jogarmos no lugar deles. Gritaremos de fora, mas não poderemos viver a vida deles. Podemos ser treinadores ou torcedores, mas não somos jogadores substitutos. Temos que ser jogadores atuantes, mas das nossas próprias vidas. Não estamos aqui para viver a vida de ninguém, senão a nossa.

Na quadra de basketball, assim como na quadra da vida, nossos filhos caem, se machucam, vencem, choram, gritam. Devemos estar sempre lá para acompanhar as suas emoções, boas ou ruins. Segurarmo-nos para não entrar na quadra não é tarefa fácil e é na adolescência que começa esta transição. É uma fase importante para os filhos e também para nós. É a hora de irmos saindo da quadra e juntarmo-nos a torcida. É difícil, mas pode trazer muita satisfação. A base principal da teoria está dada. Só nos resta ver o que acontece quando o juiz apitar o início da partida.

Coração na mão, grito na boca e orgulho no peito. Nesta hora, só posso torcer. Vai lá, meu filho. Como é bom ser pai.