domingo, 13 de março de 2011

Pelo U2, vale uma aventura.

Curto U2 desde meados dos anos 80. Lembro de ter ouvido umas músicas deles em algum programa de TV na época que transmitiu o show que eles fizeram no Red Rocks, Colorado, o qual possuo hoje  em DVD. Os caras já eram bons e só melhoraram depois daquele show. No primeiro semestre de 87, eles lançaram o LP (Long Play) “Joshua Tree”. O disco, como chamávamos na época, foi simplesmente fantástico. Enquanto a paixão pelo U2 estava se consolidando e virando amor, uma nova paixão na minha vida estava nascendo. Naqueles mesmos meses, conheci a Fabiane e começamos a namorar. Ela, por sua vez, aderiu de corpo e alma às mesmas paixões.

O U2 está vindo ao Brasil no mês que vem e já ouvi algumas histórias sobre as façanhas de muitos para conseguir ingressos para o show. Tem gente que ficou até as duas da madrugada tentando acessar o site até que conseguiu comprar o tão sonhado ingresso. Na Veja de hoje, leio ofertas de pacotes da TAM com passagem aérea, ingresso e hotel inclusos. Uma super promoção. Os caras vão fazer 3 shows em São Paulo. De alguma forma ou de outra, todos que querem ver a banda, vão conseguir. E, acreditem, está muito fácil. Nem precisa ser tão fã assim para conseguir vê-los.

História mesmo é a que a Fabi e eu vivemos para curtir um show deles nos anos 90. Nada contra as outras, mas acho ques esta vale a pena ser lembrada. Era o mês de janeiro de 98. Eu tinha agendado uma viagem a trabalho para os EUA na metade do mês e voltaria para Porto Alegre numa sexta-feira. O show do U2 seria no sábado em São Paulo. A Fabi estava muito afim de “ver” o Bono ao vivo. Tive que acreditar que o que ela queria mesmo era só “ouvi-lo” ao vivo. Tentei convencê-la que eu estaria chegando de viagem, cansado, sem dinheiro e que não seria a hora daquela aventura. Fui “persuadido” a aceitar a ideia de que iríamos. A solução para os problemas financeiros, mas nada a ver com o cansaço, foi uma excursão de ônibus partindo de Porto Alegre a São Paulo na sexta, final da tarde, com hotel e ingressos inclusos. Convenci-me e parti para os EUA.

O meu voo de volta, que deveria ter chegado em Porto Alegre às 10:00 h de sexta-feira, chegou às 15:00 h. Apenas 5 horas de atraso. Deu tempo de chegar em casa, comer alguma coisa, trocar de roupa, dar um beijo na Fabi e zarpar para o local de encontro do tour para o U2 em Sampa. Acho que o Gabriel, meu único filho na época, nem estava lá para eu, ao menos, dar um beijo nele. Chegamos no horário e o ônibus, com aqueles nossos companheiros meio “pilhados”, saiu mais ou menos na hora marcada, ou seja, 18:00 h. Foi a hora que consegui relaxar um pouco. Vinte e quatro horas antes estava tranquilamente aguardando meu voo em Orlando, FL. Um pouco de paz ao lado da minha mulher para vermos o tão esperado show do U2 no Brasil, mais precisamente, São Paulo, a 1.100 km de estrada dali.

Bastaram 30 minutos para nos darmos conta que a aventura recém estava começando. Em pleno janeiro, verão no Brasil, o ar-condicionado do ônibus quebrou. Nem mal tínhamos saído de Porto Alegre e todas as janelas do ônibus tiveram que ser abertas. Era uma daquelas tardes de mais de 30 graus. A galera começou a se animar e vi que a tranqüilidade da viagem fora embora. Mas, até aquele momento, pelo U2, tudo valia. Pensei: “Vamos que vamos”. Calor, várias conversas, vento, etc, e os quilômetros foram sendo dominados.

No dia seguinte, após uma parada em Registro, a 200 kms de São Paulo e já no início da tarde, o guia da excursão trouxe a todos a informação de que iríamos direto ao estádio do Morumbi, pois, pelo horário que estávamos e pelas informações da movimentação ao redor do evento, não seria prudente irmos para o hotel antes do show. Lá se foi aquela imagem de tomar um banho e colocar a roupa transada para a noite. Iríamos com a roupinha do corpo mesmo, sem banho e sem retoques no visual. Mas era um show do U2 e, por eles, tudo valia.

Chegamos no estádio até com folga no tempo. Deu para pegar um bom lugar, relaxar e nos prepar para o grande evento. O show que vimos foi o “POP”. U2 é U2, mas, na minha opinião, uma das piores fases da banda. Porém, não é todo dia que se via esses caras no Brasil e, muito menos, para quem morava em Porto Alegre naquela época. Curtimos muito e nos deixamos levar pelos anos de admiração na  banda. Não preciso dizer que o show foi bom demais. Só quem já esteve presente num show e curte a banda para descrever aquela emoção. Terminado o espetáculo, era só relaxar, ir para o hotel e voltar para Porto Alegre. Quem dera que tivesse sido tão simples assim.

Saímos do estádio por volta da meia-noite. A multidão era grande e, para quem vinha de Porto Alegre, assustava um pouco. Encontramo-nos com o resto da turma lá pela 00:30 h, em frente ao ônibus. Alguns minutos depois, estávamos prontos para partir. Ups! Faltava uma pessoa. Ficamos quase duas horas aguardando e o cara não apareceu. Imaginem: mais de 30 horas da partida, sem banho, sem cama, sem um show pela frente. Todos estavam ficando irritados e, inclusive, nós. Eu, naquele passivo, ainda tinha que adicionar mais 24 horas de viagem aérea desde Orlando e outra noite sem cama. Mas o show valeu. Era nisso que eu me agarrava.

Chegamos no hotel às 3:00 h da madrugada. Só fui descobrir, alguns meses depois, pelo programa “Sai de Baixo”, que o Arouche não é assim um bairro dos melhores de São Paulo. O hotel, hoje sei, era bem a sua cara. Como chegamos em bando, eram vários “check-ins” a serem feitos e apenas um funcionário. Meia hora depois, enfim, nós, um quarto e uma cama. Seria a paz. Eu disse seria. Obviamente que a Fabi achou uma barata, o quarto não tinha ar-condicionado e a noite de verão fez questão de se mostrar presente. Mas o show valeu a pena, lembrava-me eu a todo momento.

Acordamos às 9:30 h. Tomamos um rápido café em algum bar ali nas requintadas redondezas do centrão de São Paulo. Logo depois, todos os companheiros de aventura estavam em frente ao hotel. Pegamos a estrada de volta. Mal eu sabia que a melhor parte da viagem estava por vir. Acreditem no que vou dizer. O ônibus inteiro foi cantando U2 de São Paulo a Porto Alegre. Acho que não paramos nenhum minuto. Cantamos todas as músicas. Às 6:00 h de segunda-feira chegamos em casa. E ali terminou nossa façanha de ver o U2. Só sendo muito fã para toda essa aventura. Mas valeu a pena.