domingo, 21 de novembro de 2010

Imprevistos: alertas da vida

Quando menos esperamos, os imprevistos ocorrem. São aqueles acontecimentos nas nossas vidas que mudam tudo. O rumo delas acaba não sendo o mesmo após estes fatos. E do que eu estou falando ? Que imprevistos são estes ? Podem ser acontecimentos negativos ou positivos, mas normalmente são fatos do mundo externo que nos cerca. Muito difícil eles virem do mundo interno, pois é mais raro acordamos e dizermos que aconteceu um grande fato durante uma noite de sono e,  a partir desse, nossas vidas seriam alteradas.

Estou me referindo àqueles gatilhos que nos acontecem na vida, tais como, uma proposta de um emprego ou de um cargo novo, uma demissão, uma doença grave conosco ou alguém próximo, uma separação conjugal, a descoberta de uma traição de um amigo, uma grande paixão ou mesmo a morte de um ente querido. Qualquer fato destes vai trazer, com certeza, uma mudança de curso nas nossas vidas. Impossível passarmos à margem deles.

Agora, será que todos eles são mesmo imprevistos ? Não quero dizer que eles já estivessem escritos e poderíamos senti-los se aproximarem. Acidentes ou premiações acontecem, mas, em quantas vezes, se fizermos uma reflexão profunda, já não tivemos alguma sensação de que algo assim estivesse por vir. Nem sempre uma doença, uma separação, uma demissão ou mesmo uma paixão vem sozinha, sem ser precedida de sinais. Simplesmente, às vezes, não queremos enxergá-los.

Infelizmente, a maioria de nós adora uma zona de conforto. Algumas, de fato, são boas, mas tendem a nos deixar lentos, não criativos e preguiçosos. E, nesta inércia, acabamos não querendo ver ou ouvir os sinais que a vida nos passa. Parece que eles vão ficando armazenados em algum compartimento que fica entre o inconsciente e o consciente. Se trouxermos eles para o consciente, pronto, teremos que sair da zona de conforto e tomar alguma atitude. É mais fácil fazer de conta que eles não existem, virar de lado e ir seguindo a vida. Até que um dia, a vida nos prega uma peça e o fato rompe no mundo externo e vem a nossa consciência.

E agora ? O que fazer ? Se for um acontecimento bacana, que tende a transformar nossas vidas para um patamar de maior felicidade,  dá para relaxar e só curtir ? Provavelmente, não. Mesmo sendo algo positivo, como um novo emprego ou uma grande paixão, temos que estar atentos para saber aproveitar a boa chance. Gosto de dizer que são dádivas que recebemos, mas cabe a nós saber como vamos lidar com elas. São diamantes, mas em sua forma crua. Se não colocarmos energia de nossas vidas para lapidá-los, eles nunca se transformarão em jóias. Transformar uma paixão em amor, exige esforço. Transformar um emprego novo em um sucesso profissional, exige esforço. Não dá para deixar na mão da vida e acreditar que estas coisas sozinhas vão acontecer.

E quando os acontecimentos são ruins, tristes ou que abalem profundamente nossas emoções ? Difícil convencer alguém que seriam dádivas. No entanto, também acho que devemos encarar como oportunidades que a vida está nos colocando para refletirmos sobre como a conduzimos até então e se é assim que queremos conduzi-la dali para frente. Por mais que tenha muita dor associada ao acontecimento, ainda assim acho que é um grande alerta que a vida está passando para mudarmos. Pode ser a conduta com a nossa saúde, a relação com a carreira profissional, como vínhamos lidando com a relação a dois ou a importância que dávamos para as pessoas que nos cercam. Um fato forte no mundo externo pode ser uma grande oportunidade para revermos nossa conduta de vida.

Podemos ficar sentados e esperar que as coisas aconteçam ou tornarmo-nos observadores da nossa própria vida e senhores dos nossos destinos. Que a vida vai nos tirar da zona de conforto a toda hora, disso eu não tenho dúvida. É nossa atitude antes ou mesmo depois que os fatos acontecem que nos torna diferentes e com mais ou menos chances de sermos felizes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em certas horas, só nos resta torcer.

A satisfação ao ouvir meu filho Gabriel, espreguiçado no banco de trás do carro, dizer “como é boa a sensação de ser campeão” foi enorme. Estávamos voltando do ginásio após a última partida do campeonato infanto-juvenil de basketball da Grande São Paulo, na qual o Clube Athlético Paulistano havia derrotado o Esporte Clube Pinheiros. Foi uma partida eletrizante e o sabor da vitória estava na boca de todos ali no carro que sobreviveram a ela. Esta mesma cena, nos últimos anos, tinha sido exatamente o oposto. Por três vezes tive que consolar meu filho dizendo que chegar em segundo também era importante. Não preciso dizer que a taxa de sucesso foi perto de zero nestas minhas tentativas.

Acompanho a carreira do meu filho no basketball há 6 anos. Os ensinamentos que a prática esportiva trouxeram a ele neste período, sem dúvida, são e serão de muita valia em sua vida. O esporte trouxe a responsabilidade e a disciplina para participar de treinos diários e também aos fins de semana. O espírito de equipe e a camaradagem são a base do sucesso do seu time. Teve momentos muito díficeis também, como perder o primeiro emprego com 12 anos. O Sírio, clube para o qual ele jogava, acabou com a modalidade logo ao final do primeiro ano do meu filho no basketball federado. Veio a transferência para o Paulistano e o aprendizado sofrido com os três anos consecutivos com derrota na última partida, após trabalho de todo um ano. O sabor de ser vice tantas vezes foi muito amargo.

Assim, o esporte vem ensinando ao meu filho os revezes que a vida nos prega todos os dias. Sem treinamento, disciplina, foco e determinação, nunca chegaremos lá e, muitas vezes, isso não é condição suficiente para tal. O adversário pode ter feito tudo isso e nos superar ou mesmo podemos perder pela autoconfiança exagerada. O esporte serve como uma escola única para colocar em prática as questões importantes da vida.

E o meu papel de pai ? Até onde ele foi nesta história ? Por vários momentos tive vontade de entrar na quadra e empurrar meu filho para a cesta. Em outros quis gritar com ele, passar garra. Em muitos, apenas vibrar. Mas, ao final, tive que me contentar em ser apenas um espectador. Gritei refrões de “Vamos, Biel”, “É isso aí, meu filho”, “Defesa”, e dei aquela força na hora de levá-lo aos treinos ou debater o jogo após uma vitória ou mesmo derrota.

Certa vez, tive o privilégio de conversar com o Bernardinho, treinador dourado da nossa seleção masculina de voleibol. Perguntei a ele qual deveria ser a conduta de um pai frente a um filho atleta. Não esqueço uma frase que ele disse: “Seja um porto seguro e deixe o treinador fazer o papel dele”. O Bernardinho emendou dizendo que isto não quer dizer que não deveria apontar alguns caminhos, mas que meu filho, para a missão do basketball, não poderia ter dois técnicos. Tem sido muito difícil me segurar na arquibancada e não querer estar no banco de reservas dando instruções.

Hoje, por meio desta jornada do Gabriel no esporte, tenho muito claro qual é o papel que acho que nós pais devemos ter em relação ao filhos. Devemos suportá-los, orientá-los, torcer por eles, estar presentes, mas, não dá para entrar na quadra por eles e querer jogar no lugar deles. Temos que nos contentar em ficar na arquibancada e torcer. Acreditar que tudo aquilo que ensinamos, junto com os ensinamentos dos treinadores e companheiros que passaram na vida deles, possam trazer o efeito positivo que queremos.

Nossos filhos, a cada nova situação, terão que pesquisar as suas bases de ensinamentos para tomar suas próprias decisões. A medida que chegam à fase adulta, passarão a jogar por suas próprias pernas e nós pais não poderemos e nem deveremos entrar na quadra para jogarmos no lugar deles. Gritaremos de fora, mas não poderemos viver a vida deles. Podemos ser treinadores ou torcedores, mas não somos jogadores substitutos. Temos que ser jogadores atuantes, mas das nossas próprias vidas. Não estamos aqui para viver a vida de ninguém, senão a nossa.

Na quadra de basketball, assim como na quadra da vida, nossos filhos caem, se machucam, vencem, choram, gritam. Devemos estar sempre lá para acompanhar as suas emoções, boas ou ruins. Segurarmo-nos para não entrar na quadra não é tarefa fácil e é na adolescência que começa esta transição. É uma fase importante para os filhos e também para nós. É a hora de irmos saindo da quadra e juntarmo-nos a torcida. É difícil, mas pode trazer muita satisfação. A base principal da teoria está dada. Só nos resta ver o que acontece quando o juiz apitar o início da partida.

Coração na mão, grito na boca e orgulho no peito. Nesta hora, só posso torcer. Vai lá, meu filho. Como é bom ser pai.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mão dupla para a tecnologia nas nossas vidas

Sempre houve um intercâmbio de valores entre as pessoas físicas (nós, os humanos) e as pessoas jurídicas (as empresas). Uma não passa inerente à outra. As empresas são afetadas pelos valores pessoais que trazemos incutidos na nossa personalidade quando ingressamos no trabalho, assim como, somos afetados pelos credos e a maneira formal e processual como as coisas acontecem num ambiente corporativo. As duas pessoas são, concomitantemente, afetadas pelo o que a outra traz consigo e ambas acabam levando um pouco do que a outra tem. E este é um caminho de duas vias.

Tenho reparado, porém, que a tecnologia da informação também vem sofrendo este intercâmbio entre as pessoas e as empresas. Isto não era comum, pois o sentido sempre foi das empresas para as pessoas. O uso da tecnologia nas nossas vidas pessoais só acontecia depois de muito esta ter sido adotada pelas empresas. Após um tempo de uso dela para o trabalho é que conseguíamos usufruir dos mesmos benefícios na vida pessoal.

Quando surgiram os primeiros grandes computadores, estes eram para poucas e grandes empresas. Sua concepção e desenvolvimento visavam ajudar as corporações a solucionar os problemas que afetavam o seu dia a dia, como questões financeiras, de recursos humanos e de produção. Nós, os humanos, se tínhamos algum contato com esta tecnologia era pensando somente nas questões da empresa.

A tecnologia foi evoluindo e foi inventado o computador pessoal (PC). Este já podia ficar sobre uma mesa convencional de uma pessoa, mas ainda surgiu como um equipamento das empresas e usado internamente para o trabalho. Passado algum tempo, o preço caiu e o PC tornou-se popular também no mundo das pessoas físicas. Aqueles que primeiro o adotaram para uso pessoal, viveram as primeiras experiências da transferência da tecnologia da informação do meio corporativo para o interior de suas próprias casas.

Esta mesma transferência ocorreu com os hoje tão “batidos” e-mail e planilha de cálculos. Estas tecnologias foram difundidas largamente no ambiente corporativo e, posteriormente, invadiram cada um que possuía um PC. Acessei o meu primeiro “inbox” em um terminal de um mainframe,  longe de ser algo para uso pessoal. Hoje, contudo, acesso meus e-mails (tenho mais de um sim) pelo meu PC, pelos meus smartphones e de qualquer equipamento que tenha algum acesso a internet. Aquilo que começou com uso restrito nas empresas invadiu a nossa vida pessoal.

De uns anos para cá, porém, o fluxo de adoção de tecnologia parece ter ganho uma nova direção, passando das pessoas para as empresas. Não que elas não continuem influenciando o uso de tecnologia nas nossas vidas pessoais, mas percebe-se agora uma mudança. As empresas também estão adotando tecnologias que foram primeiro adotadas por nós, as pessoas.

Há alguns anos atrás, planejei uma viagem aos EUA e defini a localização de hotel, roteiro, locais de visita, etc, usando um aplicativo baixado da internet que mostrava fotos de satélite de todos os lugares que eu iria passar. O uso era totalmente pessoal. Hoje, vejo emissoras de televisão, empresas globais, etc,  usando o mesmo aplicativo, quase que diariamente, para mostrar endereços em qualquer lugar do mundo. Senti-me um precursor, mas, na verdade, esta aplicação estava disponível para qualquer um que tivesse acesso a internet. Foi o simples fato de que as pessoas a adotaram antes das empresas.

Outro exemplo são as redes sociais. Seu uso é largamente difundido entre nós, pessoas físicas. As empresas, entretanto, estão se debatendo para entender como acompanhar o passo imposto pela adoção desta tecnologia. As redes sociais abriram novas formas de relacionamento entre as pessoas e as empresas se perguntam: “Devemos adotá-las ?”, “De que maneira ?”, “Com qual objetivo ?”. É mais uma tecnologia que ganhou forte adesão no mundo das pessoas e está migrando para o mundo das empresas.

Está claro que não há mais sentido único ou obrigatório na adoção da tecnologia. O caminho está aberto e tem duas mãos. Empresas e pessoas compartilham agora valores, credos e preferências tecnológicas. Nenhuma das duas partes consegue viver mais sem ser afetada pela outra, como deve ser em todo bom relacionamento. Fica a pergunta: Qual será a próxima tecnologia que vai mexer com as nossas vidas, seja como pessoa física ou jurídica, e de qual direção ela virá ?