Sempre houve um intercâmbio de valores entre as pessoas físicas (nós, os humanos) e as pessoas jurídicas (as empresas). Uma não passa inerente à outra. As empresas são afetadas pelos valores pessoais que trazemos incutidos na nossa personalidade quando ingressamos no trabalho, assim como, somos afetados pelos credos e a maneira formal e processual como as coisas acontecem num ambiente corporativo. As duas pessoas são, concomitantemente, afetadas pelo o que a outra traz consigo e ambas acabam levando um pouco do que a outra tem. E este é um caminho de duas vias.
Tenho reparado, porém, que a tecnologia da informação também vem sofrendo este intercâmbio entre as pessoas e as empresas. Isto não era comum, pois o sentido sempre foi das empresas para as pessoas. O uso da tecnologia nas nossas vidas pessoais só acontecia depois de muito esta ter sido adotada pelas empresas. Após um tempo de uso dela para o trabalho é que conseguíamos usufruir dos mesmos benefícios na vida pessoal.
Quando surgiram os primeiros grandes computadores, estes eram para poucas e grandes empresas. Sua concepção e desenvolvimento visavam ajudar as corporações a solucionar os problemas que afetavam o seu dia a dia, como questões financeiras, de recursos humanos e de produção. Nós, os humanos, se tínhamos algum contato com esta tecnologia era pensando somente nas questões da empresa.
A tecnologia foi evoluindo e foi inventado o computador pessoal (PC). Este já podia ficar sobre uma mesa convencional de uma pessoa, mas ainda surgiu como um equipamento das empresas e usado internamente para o trabalho. Passado algum tempo, o preço caiu e o PC tornou-se popular também no mundo das pessoas físicas. Aqueles que primeiro o adotaram para uso pessoal, viveram as primeiras experiências da transferência da tecnologia da informação do meio corporativo para o interior de suas próprias casas.
Esta mesma transferência ocorreu com os hoje tão “batidos” e-mail e planilha de cálculos. Estas tecnologias foram difundidas largamente no ambiente corporativo e, posteriormente, invadiram cada um que possuía um PC. Acessei o meu primeiro “inbox” em um terminal de um mainframe, longe de ser algo para uso pessoal. Hoje, contudo, acesso meus e-mails (tenho mais de um sim) pelo meu PC, pelos meus smartphones e de qualquer equipamento que tenha algum acesso a internet. Aquilo que começou com uso restrito nas empresas invadiu a nossa vida pessoal.
De uns anos para cá, porém, o fluxo de adoção de tecnologia parece ter ganho uma nova direção, passando das pessoas para as empresas. Não que elas não continuem influenciando o uso de tecnologia nas nossas vidas pessoais, mas percebe-se agora uma mudança. As empresas também estão adotando tecnologias que foram primeiro adotadas por nós, as pessoas.
Há alguns anos atrás, planejei uma viagem aos EUA e defini a localização de hotel, roteiro, locais de visita, etc, usando um aplicativo baixado da internet que mostrava fotos de satélite de todos os lugares que eu iria passar. O uso era totalmente pessoal. Hoje, vejo emissoras de televisão, empresas globais, etc, usando o mesmo aplicativo, quase que diariamente, para mostrar endereços em qualquer lugar do mundo. Senti-me um precursor, mas, na verdade, esta aplicação estava disponível para qualquer um que tivesse acesso a internet. Foi o simples fato de que as pessoas a adotaram antes das empresas.
Outro exemplo são as redes sociais. Seu uso é largamente difundido entre nós, pessoas físicas. As empresas, entretanto, estão se debatendo para entender como acompanhar o passo imposto pela adoção desta tecnologia. As redes sociais abriram novas formas de relacionamento entre as pessoas e as empresas se perguntam: “Devemos adotá-las ?”, “De que maneira ?”, “Com qual objetivo ?”. É mais uma tecnologia que ganhou forte adesão no mundo das pessoas e está migrando para o mundo das empresas.
Está claro que não há mais sentido único ou obrigatório na adoção da tecnologia. O caminho está aberto e tem duas mãos. Empresas e pessoas compartilham agora valores, credos e preferências tecnológicas. Nenhuma das duas partes consegue viver mais sem ser afetada pela outra, como deve ser em todo bom relacionamento. Fica a pergunta: Qual será a próxima tecnologia que vai mexer com as nossas vidas, seja como pessoa física ou jurídica, e de qual direção ela virá ?
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